CRÔNICA E FILOSOFIA: O MAGISTÉRIO É FEMININO E SUBMISSO

Já não bastassem os nossos problemas históricos e de falta de infraestrutura adequada para a educação básica e popular no Brasil, agora nós entramos nesse período bastante imprevisivel de pandemia. E salvo o ufanismo mórbido de alguns indivíduos  meio tontos que parecem ser professores de ilusões, a situação é das mais graves possíveis. Pois como um dos principais gargalos do país é a desigualdade, pelo que estamos observando agora, essa realidade desigual que nós vivenciamos desde as capitanias hereditárias, tende a se agravar com a crise do Corona Vírus também na educação, pois o acesso à inclusão digital no país não é uma coisa tão unânime como as vezes parece. Pois por mais que os nossos jovens saibam de todos os segredos dos mais sofisticados smartphones, é importantíssimo que primeiramente cada estudante tenha acesso a um aparelho no horário devido de cada aula. Também é preciso fazer recargas, pois por mais baratas que elas pareçam as vezes, elas  tem os seus custos. As recargas  acabam muito rápido dependendo do uso quase sempre compulsivo de jovens e adolescentes. E os melhores planos costumam consumir boa parte da renda familiar. Um outro problema é que a atenção média do aluno da escola regular que cursa a educação popular é muito dispersa até presencialmente, e seria muita ingenuidade esperar que de uma hora para outra, esse estudante seja minimamente atencioso para com o ensino remoto. Isso sem falar do professor, que também foi pego de surpresa em uma situação a qual ele também não estava preparado. Tudo isso será inevitavelmente um agravante nos nossos problemas educacionais em mais uma das suas má fases históricas. Me sinto como se tivéssemos que assimilar a um golpe quase fatal. É como se fossemos atingidos pelo tiro de misericórdia de um mau atirador, que ao disparar a pistola bem de perto, mesmo assim errou o alvo e acertos o nosso ombro, e por essa razão sobreviveremos. Mas por por mais que nós possamos ser muito otimistas e dizer que o que vale mesmo é o esforço pessoal de cada professor ou a dedicação de cada aluno na busca pelo conhecimento e pelo sucesso pessoal e profissional, a educação escolar moderna é por definição um projeto social, nacional, mundial, político e pedagógico rumo ao desenvolvimento também social, cultural, humano e político, cujo a culminância não deveria, penso eu,  jamais escapar da valorização popular e social do magistério. Caso contrário, o ciclo das espectativas positivas em torno da escola não se fechará jamais. Principalmente a partir de hoje. Mas se a educação de hoje para ser minimamente eficiente não poderá jamais alienar_se da geopolítica mundial, diante do que nós estamos experimentando hoje, o que esperar da escola na fase pós pandemia, se até em relação ao combate à doença nós nós destacamos científicamente mundo receitando até Cloroquina através do presidente da república? Será até que ponto a escola também sofrerá com esse momento atual onde o Brasil tem se tornado uma espécie de pária na comunidade política internacional? Penso que para chegarmos a algumas conclusões, é preciso fazermos uma reflexão de como chegamos até aqui.

A escola no Brasil tem um caráter muito peculiar, pois por mais que os homens estejam presentes nela, também como professores e diretores, a escola ainda é uma instituição onde as saias, os vestidos e os batons predominam muito mais. Evidentemente que isso tem uma certa história, pois até meados do final da década de 70, ser professor, ou melhor, ser professora da educação básica na sua maioria esmagadora, tinha um certo prestígio por aqui, uma vez que as pessoas que lecionavam nas escolas regulares, costumavam ser as damas de maior prestígio nas sociedades das nossas grandes e pequenas cidades. Neste ambiente histórico, essas mulheres tinham uma nobre incumbência, que era levar o prestígio das suas famílias e o pomposo sobrenome dos seus maridos para dentro das instituições escolares. Isso fazia com que a escola brasileira, mesmo sendo a princípio, uma instituição que costumava fazer  exclusões sociais bastante seletivas, ainda tinha muitos bons resultados se comparados às instituições dos países mais bem colocados em educação pública do mundo. Mas a década de 70 chegou, e com ela, um investimento também substancial no ensino técnico. Mas curiosamente, a decadência da valorização social do magistério foi se acumulando gradativamente, até que no final da década de 70 e início da de 80, as damas consideradas as mais distintas da sociedade, já tinham ido embora na sua maioria esmagadora do ensino básico, e juntamente com elas, foi_se também o prestígio e o sobrenome dos seus maridos Oscar, e alguns deles eram podres de ricos.

Mas mesmo assim, a escola não deixou de ser um ambiente predominante feminino. E quando eu digo que a escola não deixou de ser um ambiente predominantemente feminina, eu não estou querendo dizer com isso que ela continuou sendo um lugar de muitas mulheres e poucos homens necessariamente, pois gradativamente, os homens começaram a se aproximar do magistério cada vez mais. Mas mesmo assim, apesar da presença dos muitos varões que chegam ao magistério até os dias de hoje, permanecemos ainda com parte considerável da cultura imposta ao feminino e a sua pior parte, que é o excesso de submissão. E com mais um agravante, no passado, as mulheres também eram predominante submissas, mas mesmo assim, elas traziam o prestígio dos seus maridos Oscar podres de ricos para o interior das instituições escolares. Mas no momento atual, mesmo com a presença dos muitos homens que também compõem o magistério, a predominância da cultura social imposta ao feminino permaneceu no nosso meio com o seu excesso de submissão. E como praticamente todos nós professores de hoje, sejam homens ou mulheres, não somos quase sempre nenhum tipo de marido Oscar podre de rico e muito menos ex patricinha da legítimas da Zona Sul, da Barra da Tijuca e nem do bairro do K11 em Nova Iguaçu, , até pelas nossas origens humildes, nós temos sido acossados por essa absurda e histórica desvalorização social do magistério e a sua cultura feminina de submissão.

Um dos sintomas dessa submissão e feminização submissa da escola, está no divórcio que é imposto entre o ensino básico e entre as nossas universidades. Pois as instituições universitárias, mesmo tendo a presença de homens e mulheres nos seus quadros, sempre foram instituições onde a cultura masculina predominou bem mais. Evidentemente hoje bem menos, mas não podemos nos esquecer que desde os seus primeiros dias de continente europeu, era unicamente o masculino que imperava nessas instituições. E o Brasil também herdou essa tendência para o masculino na formação superior, sobretudo na docência. E quando eu digo que a tendência universitária é masculinisadora, me refiro não à auxência de mulheres como alunas e professoras, mas sim  ao incentivo à liderança intelectual que ela promove. E ao masculinizar_se como valor cultural de liderança masculina do saber como símbolo, parece que ela faz questão de alimentar uma cultura de divórcio entre o magistério de ensino superior das nossas  instituições de ensino básico e popular. E mesmo quando nós professores do ensino regular e popular retornamos aos bancos da universidade para fazer algum tipo de pós graduação, costuma ser apenas com o objetivo justíssimo de receber uma melhor valorização profissional e uma também justíssima valorização salarial, mas quase sempre sem o objetivo de contribuir, inclusive com as suas pesquisas, para o desenvolvimento da educação básica do país. Ou seja, nós vestimos as calças cumpridas da liderança intelectual das universidades quando estamos nelas, e ao chegarmos às escolas de ensino básico, colocamos as saias, os vestidos e os batons da submissão intelectual.

Um outro sintoma interessantíssimo nesses termos de submissão feminina da educação básica, é que há um hábito de esconder as demandas desses atores para que a educação popular não sejam ouvidos. Pois para a discussão de qualquer tema de relevância nos meios de comunicação esse profissional quase nunca está entre os convidados. Ele é o cara  que é sempre tratado como o pseudo intelectual da submissão feminina que foi feito para obedecer resoluções e portarias sem jamais questionar. Afinal de contas, a voz dele representaria a voz da maioria esmagadora das pessoas mais humildes que necessitam da escola regular e da educação popular para ter um futuro pelo menos mais ou menos digno. Parece até que há muitos e muitos especialistas que denotam conhecer demais a escola popular no Brasil, sobretudo o ensino pública. Mas no dia a dia da escola, esses supostos pesquisadores são vistos por quem? aliás, por favor, quando algum professor os ver, ou se algum de vocês por um acaso vislumbrar a Mirian Leitão passar pelos corredores de alguma escola pública, eu faço um rogo, mostre ela pra mim por favor, pois a impressão que eu tenho é que o caso do divórcio entre a educação popular e as universidades ocorre também entre a própria imprensa oficial, que também corrobora com esse predomínio dos benefícios da cultura masculina na gestão intelectual, mas parece que não está muito interessada na escola regular como fonte dos seus interesses desenvolvimentistas. Basta percebermos a prioridade que a mídia dá ao Enem como plataforma de desenvolvimento para a educação. Mas a escola pública de massa não tem muita cobertura nesse sentido. É como se a escola de educação básica tivesse que continuar vestindo as saias históricas de uma submissão do feminino que começara lá quando as principais damas da sociedade também eram as nossas professoras da rede pública.

Uma das pior partes disso tudo isso é a atribuição paternalista que é dada ao professor através da nossa sociedade. Afinal de contas, ele costuma ser visto como uma espécie de mãezona que tem que ser mesmo é a babá de luxo do filho dos outros, ou um simples cumpridor de tarefas que deve se preocupar mais em fazer tudo direitinho para que o AGE não dê um esporro na direção da escola por causa dele. Nada contra, mas é muito pouco para a importância da missão de ensinar. E o aprendizado que é o principal, fica sempre em segundo plano. E por que isso ocorre? isso ocorre também, porque os resultados da aprendizagem da escola pública dependem também de muitos fatores que fundamentam a valorização social do magistério e parte da recuperação do mesmo que existira no passado. Principalmente com a qualificação do profissional da educação. E sem mais delongas, uma sociedade só valoriza aquilo que ela remunera com o mínimo de razoabilidade. E se o aluno não enxerga o seu professor como um dos vencedores, ele não vai ouvi_lo a contento. Pois regularmente, as pessoas não dão muita importância à um indivíduo que elas consideram que não está entre os vencedores da sociedade onde elas vivem. E o professor precisa estar entre os eles, não apenas em termos de salário, mas de valorização social do magistério, que nós perdemos desde que as mulheres dos maridos Oscar podres de ricos foram embora da escola pública.

E para finalizar, é muito importante que a aprendizagem seja a principal meta da escola, não apenas da boca pra fora, mas de fato e de verdade. Mas aí nós nos colocamos novamente diante do principal problema desse texto, pois valorizar ao máximo o professor, a ponto de ele ter uma certa autonomia intelectual, uma participação social e política altiva, e acima de tudo, o prestígio social necessário à sua atuação, depende muito da nossa conscientização do papel e do lugar de submissão feminina onde nós fomos postos social e politicamente, e isso eu digo que nós precisamos fazer como homens e mulheres da educação, contra essa cultura de submissão intelectual que nos foi relegada histórica e socialmente. Mas para isso, precisamos da tão falada educação continuada. Essa educação continuada precisa ser sem divórcios com as universidades, com a pesquisa e com a inovação, que seria a entrada da liderança intelectual que é atribuída ao masculino nas escolas, e não somente nas universidades. E nem adiante contar história, educação continuada é acima de tudo pós graduação, mestrado, doutorado, pesquisa, inovação, e se possível, integração com centros universitários e de pesquisa do mundo.

Eu sei que com esse momento que nós estamos vivendo, tudo isso parece muito mais utópico que antes, pois agora a agenda é outra, pois precisamos juntar os cacos em um país que está ainda discutindo a eficiência da ultrapassada Cloroquina como remédio que talvez podesse, doravante, todavia curar alguém da Covid 19. E quem está receitando o medicamento é o próprio presidente da república, tese essa que é contrária a praticamente todas as pesquisas do gênero, que é contrária aos critérios da OMS e que desdenha o próprio Ministério da Saúde de um país chamado Brasil, que curiosamente um cara chamado Jair Messias Bolsonaro preside. E como ficará a situação da educação popular diante de toda essa problemática e depois que nós superarmos essa pandemia. Confesso que não sou e jamais serei um pessimista. Mas mesmo assim me reservo no direito de olhar no espelho e me ver persplexo e com um temor que tem inquietado a minha percepção já a algum tempo. E que temor é esse? eu tenho temores de que no Brasil a estupidez se torne a norma e que o conhecedor vire o idiota. Pois já faz algum tempo que tá na moda ser burro no Brasil. Neste caso, nós professores seremos cada vez mais fundamentais nesse processo. E penso que essa fase até os dias da pós pandemia pode ser um bom dividir de águas para isso. Pois até lá, eu penso que pelo menos o Ministro da Educação já não seja mais o Abraam Waintraub, aí novamente,  o sol há de bater na janela do teu quarto.

Eldon de Azevedo Rosamasson

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