PARÁBOLAS DO SÉCULO XXl

Era uma vez dois casais de vizinhos, Edson e Carol e Viviane e Sérgio. Edson e Carol se amavam muitissimo, a exemplo de Viviane e Sérgio, porém os dois casais tinham estilos muito diferentes de viver os dias do seu ninho de amor, pois os primeiros, Edson e Carol, eram muito bem sucedidos nos seus ramos profissionais, pois ele era um grande empresário da área de Tecnologia e ela era uma pessoa de muita influência no ramo da moda e da indústria têxtil. Edson e Carol dividiam tudo, principalmente as tarefas domésticas, o cuidado com o casal de filhos pequenos, e não havia nenhum segredo entre ambos, uma vez que era como se de fato  os dois fossem uma só pessoa. Em uma oportunidade, Carol perguntou a Edson, Edson, você é feliz? e derrepente, após Carol ter feito essa pergunta, o silêncio tomou conta de ambos e a resposta objetiva à pergunta de Carol não foi respondida, nem por ele e muito menos por ela que o indagara.

Porém Viviane e Sérgio era aquele tipo de casalzinho demodé. O marido era proprietário de uma cooperativa de táxis e a mulher era aquela típica dona de casa tradicional de estilo a rainha do lar. Ela cuidava dos filhos enquanto o pai trabalhava fora, ela se aborrecia quase solitariamente com o casal de filhos enquanto Sérgio só se apresentava de vez em quando para dar aquela bronca definitiva de agora o papai tá bravo, então chega! Até porque Sérgio é viciado em jornal e no jogo das quatro da tarde de domingo. Era como se o amor pelas cores do Vasco justificasse quase uma total indiferença para com os outros habitantes da casa.

Intrigados em torno daquele silêncio gerado pela  pergunta desconcertante da Carol,  você é feliz? Edson e a sua esposa começaram a pensar a mesma coisa no interior de um silêncio quase constrangedor, pois eles estavam muitíssimo curiosos em saber se os seus vizinhos Viviane e Sérgio eram mesmo felizes, afinal de contas, por mais que Viviane tentasse conter os seus delírios noturnos, alguns sussurros ela não conseguia fazer não escapar dentre as quatro  paredes da intimidade do casal. A ponto das crianças das duas casas pensarem que Viviane sofresse de uma intensa dor de dentes crônica que só ocorria durante a madrugada.

Porém uma oportunidade estava chegando para dar a eles, a Edson e a Carol, a oportunidade de verificar se de fato Viviane e Sérgio eram felizes como aparentavam os sussurros da madrugada que saltavam silenciosos para dentro dos quarto da vizinhança mais próxima. Quando chegou o dia da comemoração de aniversário da filha de Viviane e Sérgio, Carol puxou um assunto aparentemente meio sem pé nem cabeça à respeito da felicidade, dando a entender que ser feliz como nos contos de fada jamais existira e que só gente ingênua crê nessas bobagens. Durante aquele curto espaço de tempo que Carol disse essas coisas, Sérgio seu marido só observava como se estivesse em um camarote assistindo a um emocionante clássico Vasco e Flamengo, uma vez que ele, ao contrário do vizinho que era Vasco, era flamenguistas. Mas o curioso é que depois da pergunta, Viviane e Sérgio olharam um para o outro em um olhar de estranhamente como se dissessem mais ou menos assim, mas que casal de gente maluca, se eles não acreditam no amor eterno dos contos de fada, por que eles ainda estão casados?

Edson e Carol saíram daquela festa se sentindo o pior e mais desgraçado de todos os casais da face da terra, pois eles investiram tantos e tantos anos das suas vidas formando as suas consciências pós modernas e acadêmica com a ideia de que eles estariam sempre dividindo tudo como pessoas iguais, desde a criação dos filhos até as mais simples tarefas domésticas. Mas aquele casal demodé de uma mulherzinha tradicional que tem um marido aparentemente toglodita, não vê nenhuma dificuldade de se amarem todas as noites e serem felizes como se estivessem em um verdadeiro conto de fadas, que aparentemente só pertence à fantasia deles, mas que mesmo assim para eles era tão real.

Antes de dormir, Carol fez uma oração. E curiosamente, mesmo na sua dureza de membro da Raça Rubro Negra, Edson também fizera o mesmo, pois ambos se amavam. Mas por que apesar disso, não conseguiam ser tão espontaneamente  felizes como Sérgio e Viviane. Eles precisavam imediatamente de  uma resposta de Deus.

Durante a noite, Sérgio teve um sonho. E neste momento onírico ele assistia a um filme chamado igualdade. A história se passava entre um casal que ficou durante as duas horas do longa metragem discutindo a sua relação, a igualdade entre ambos e a divisão das tarefas. Como o desejo dos personagens da trama pela igualdade era exageradamente grande, Deus fez com que o corpo de ambos ficasse cem por cento igual. Após este ocorrido, o casal do filme perguntou a Deus o seguinte, mas Senhor, o que tem demais a gente querer a igualdade entre nós? O Senhor é contra a igualdade entre homens e mulheres? E Deus respondeu para o casal , eu não sou contra a igualdade, mas ela é uma invenção de vocês seres humanos, mas eu não inventei a igualdade, o que eu criei foi a diferença.

Carol por sua vez teve o seguinte sonho, ela assistia a uma peça de teatro onde uma mulher discutia todos os dias com o seu marido até o esgotamento, pois nada poderia sequer parecer com machismo, mesmo se a coisa não fosse bem assim e nem nada isso. Curiosamente, a mulher da peça sempre vencia o marido em todos os argumentos, e ele sempre desistia das discussões se achando o mais machista de todos os seres do planeta. Porém em um dia de pura fúria comedida, o marido resolveu reagir aos argumentos infalíveis da sua mulher depois de ela ter perguntado, eu tenho ou não tenho razão? Com isso ele a fitou serenamente, olhou bem no fundo dos seus olhos e disse, razão você sempre tem, a diferença é que alguns escolhem ter razão enquanto outros preferem ser felizes.

Depois que Edson e Carol acordaram, eles contaram um para o outro o sonho que tiveram. A partir daí, eles  entenderam o porquê de tanta felicidade entre Viviane e Sérgio, apesar de eles serem aparentemente tão simplórios. E dentre os muitos suspiros noturnos que retornaram à intimidade do casal, Edson e Carol viveram felizes para sempre.

Eldon de Azevedo Rosamasson

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