FÁBULAS DO SÉCULO XXl PARTE Vl: A ÁGUIA, O GALO E A GALINHA

A águia, um um dos animais mais belos, mais charmosos, e sobretudo o mais altivo ser dentre todos os voláteis, ficou seriamente ameaçada de extinção quando resolveu dar ouvidos à galinha e quando recebeu dela o seu evengelho de humildade. Pois assim ela dizia: oh águia águia, mais belo, mais charmoso e mais altivo ser de todo reino animal, por que tu nos humilha tanto com os teus lindos e ostentosos vôos de asas abertas, como se a cada movimento nos céus tu estivesses  parada no ar como um beija_flor?  Aprendas tu conosco a ser mais humilde, pois Jesus Cristo não gosta dos criaturas altivos de coração como és tu.

A cada dia que passava, a águia era constantemente assediada pelo evangelho de humildade da galinha, que insistia em lhe falar coisas do tipo: Oh águia águia, mais maravilhoso, mais ostentador e mais espaçoso de todos os animais que estão na família dos voláteis, seja como nós, voe mais baixo e não permitas que a soberba inunde de orgulho o teu coração, pois Deus não gosta daqueles que amam e praticam a altivez.

Ouvindo todos os dias essas coisas, a águia, que até então era o mais altivo, o mais belo e o mais encantador de todos os voláteis e de todos os seres do reino animal, começou a perder a vontade de voar, e com isso, passou a atingir vôos cada vez mais baixo. Até que finalmente ela aprendeu a ciscar, aprendeu a se alimentar de milhos, passou a ouvir o sho das pessoas da casa, se converteu ao evagelho de humildade das galinhas e passou a ser bem mais simples, tão simplória a ponto de se submeter  a ser sacrificada como o alimento do próximo final de semana.

Quando chegou o domingo e a ex águia que virou galinha estava prestes a ser servida como um suculento frango ao molho pardo, a águia resignada percebeu que em meio àquelas galinhas havia um animal que parecia ser muito diferente das outras aves que estavam por perto e muito mais autoconfiante que aqueles seres desengonçados e sem visão tridimensional, esse ser autoconfiante era o galo. E o mais curioso era que apesar de não saber voar tão alto como aquela águia fizera outrora, o galo além de muito belo parecia que não pertencia ao mesmo evangelho de humildade das galinhas. Curiosa com a personalidade altiva daquele ser, que apesar de não saber alçar a vôos tão altos, permanecia se movimentando como belo, a águia perguntou ao galo, que nem notou que um dia aquele animal que estava ali à sua frente havia sido uma águia:  senhor galo, tu nem sequer sabes voar tão alto, sendo assim, por que tu cantas tão alto e com tanta altivez, como se o mundo todo tivesse que ouvir os tenores da tua voz de mando? Converta_se imediatamente ao evangelho de humildade das galinhas e aprenda definitivamente os segredos da verdadeira humildade. Pois Deus odeia seres altivos como tu.

Ouvindo essas coisas o galo olhou para a ave com o peito bem estufado como ele sempre faz, cantou de galo mais uma vez, atraiu para si todas as galinhas do quintal e disse para a águia: olhe bem para essas galinhas, são desengonçadas e não conhecem os segredos da dança. Elas só cacarejam e são incapazes de cantar uma canção. Mas eu aprendi a caminhar com belo simplesmente porque aprendi a dançar. E eu canto bem alto para compensar a minha frustração de não saber dançar pelos céus como as águias, pois eu só posso acreditar em um Deus que aprendeu dançar, que saiba cantar e que possa voar, e é por isso que eu admiro  tanto as águias, porque elas sim são capazes de fazer todas essas coisas.

Quando a águia ouviu isso do galo, ela recuperou imediatamente toda a sua plumagem perdida nos tempos de convivência no galinheiro, ela recuperou as dimensões privilegiadas do seu olhar de águia que avista de longe a sua presa indefesa, ela se converteu ao evangelho do novo testamento galo, que a salvou da panela, se despediu das galinhas apenas com o som da plumagem das suas asas, que voltou a capturas as poderosas forças do vento, e jamais voltou a se encontrar com uma galinha na vida.

Eldon de Azevedo Rosamasson

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