PARÁBOLAS DO SÉCULO XXl PARTE Xl
Um mestre muito experiente, doutor em História Política pela Sorbonne, decidiu dedicar os últimos dez anos antes da sua apodentadoria à educação básica. Para isso, ele pediu demissão da Universidade onde lecionava, prestou concurso público para a federação estadual do Rio de Janeiro, passou em primeiro lugar entre notas e titulações, foi convocado, e tendo sido admitido nos exames médicos, foi encaminhado pela regional para o colégio Visconde de Cairu no município de São João de Meriti.
Chegando à escola, o professor foi carinhosamente recebido pela dona Lanecy, cumprimentado pela Flávia e afagado pela Adriana, sempre com aquele sorriso que é o que mais caracteriza essa escola. E ao ser acolhido pela dona Cristiane, que é a diretora dessa humilde instituição de ensino, o nosso herói assim concluiu sem nem titubear: agora sim, após uma longa e próspera carreira de tantas e diversas conquistas nacionais e no exterior, eu encontrei e foi desvelado o meu verdadeira nome interno, professor.
Porém com o tempo, nosso herói começou a perceber as diferenças óbvias entre as dificuldades de se lecionar História para as pessoas que em média estão quase sempre predisposta a estudar e entre os jovens que quando não tem uma boa e bela aventura amorosa no colégio costumam perder o interesse pelo ambiente escolar. Desta maneira, relativamente perdido em meio à essa experiência nova, esse professor tão experiente, e experimentado internacionalmente, decidiu perguntar para vários pessoas sobre o que ele deveria fazer para que os alunos realmente aprendessem a ter uma atitude de curiosidade mínima pelo conhecimentos, para que a História da Humanidade fizesse sentido para muitos e muitos adolescentes que não sabiam sequer sobre a sua própria história e quem eram os seus verdadeiros pais.
Para resolver o problema, ele começou fazendo o óbvio, que é perguntar aos seus próprios colegas de profissão sobre o que fazer. E com a mais absoluta certeza, ele ouviu muitos bons conselhos, escutou algumas palavras apenas burocráticas e até o famoso "bota pra fora de sala"e o "manda pra direção" ele ouviu como sempre. Mas a verdade nua e crua era que o homem fazia, fazia, mas o tão esperado resultado não aparecia. Sendo assim, o professor perguntou a muita gente especialista em gestão de pessoas das mais diversas áreas, para que elas definitivamente lhe apontassem um caminho no qual ele pudesse finalmente ser um professor tão brilhante como ele o foi durante o período em que lecionava História da Filosofia Política na Sorbonne. Para isso, ele procurou muitos e muitos profissionais que pudessem lhe apontar pelo menos um caminho. Dentre eles estava uma psicóloga que lhe deu um conselho, faz dinâmica de grupo com a turma professor. Mas ao fazê-la ele percebeu que a dinâmica promovia muito mais o entretenimento do grupo, e muito menos a aprendizagem dos alunos. Não satisfeito, ele buscou os conselhos de um monge que disse assim: colova_os sentados um de frente para o outro e diga para que eles se abracem mestre. Com essa técnica, as energias negativas serão eliminadas através do perdão, e todos aprenderão com uma melhor desenvoltura, oh nobre professor. Mas o nosso herói percebeu que os abraços eram sensações momentâneas, que não poderiam ser resolvidas na escola, se o amor não for vivenciado ao longo da vida familiar de cada criança e adolescente. Razão também pela qual ele percebeu que em termos de aprendizagem real os resultados continuavam a ser os mesmos de antes. Inclusive os tais abraços geraram até algumas experiências eróticas, a despeito de nenhum resultado pedagogicamente satisfatório
Mas um dia, ao caminhar pela cidade, o nosso herói avistou um circo no Shopping grande Rio, montado com todo o seu picadeiro, e resolveu entrar no mesmo pensando assim: bom, eu já procurei o conselho de todas as pessoas que eu julgava poder me ajudar, e até agora o resultado é o mesmo, os meus alunos não conseguem reter o mínimo de conhecimento de História a contento. Vendo_o triste, pensativo e cabisbaixos, enquanto esperava o espetáculo começar, o palhaço, que quase sempre é o mais intuitivo da companhia, lhe perguntou, oh homem com cara de intelectual, olhares de uma água e voo de galinha, por que estás tão triste assim? fale o teu problema para mim, que hoje o oráculo de todos os picadeiros e mestre de todos os palhaços há de falar ao seu tão culto coração! Sendo assim, o professor, que já estava quase desistindo de tudo e voltando para o ensino superior pensou: eu já tentei de tudo e não encontrei uma solução, quem sabe esse homem na sua maior simplicidade consegue solucionar o meu problema? Afinal de contas os estudantes me ignoram, mas ele consegue atrair a atenção de toda essa plateia. E o professor começou a narrar detalhadamente o seu problema para o palhaço.
Depois que o homorista ouviu atenciosamente o professor ele lhe disse assim: oh grande e experiente mestre, o mais ilustre que os meus olhos já contemplaram e que a minha fala já alcançou, vou hoje mesmo te ajudar a resolver esse problema tão singular que tanto aflige o teu culto coração!. Com isso o palhaço o levou para a parte mais alta do picadeiro e o colocou bem em frente à uma corda bamba que atravessava toda a extensão superficial daquele lugar de espetáculo e disse para o professor experiente, grande mestre, hoje o senhor vai aprender a caminhar sobre a corda bamba. Evidentemente o palhaço lhe deu todas as dicas de como fazer a travessia, e após horas e horas de tentativa, que durou toda uma tarde, o professor iniciou os seus primeiros passos bem sucedidos sobre a superfície da corda bamba. Mas quando ele já se encontrava lá no meio do caminho ele perguntou para aquele estranho palhaço, que parecia ser mais sábio que todos os especialistas e mestres da História da Filosofia e da Sorbonne: mas meu amigo, qual é a relação entre a corda bamba e os meu alunos? e o palhaço lhe respondeu: professor, feche os olhe e olhe pra dentro do senhor agora, e imediatamente o professor fez isso, até porque essa era a sua última chance de ser um professor bem sucedido do Colégio Visconde de Cairu. E quando o professor conseguiu abstrair as lições daquele palhaço, ele fechou os olhos em plena corda bamba e teve uma visão iluminadora naquele momento, pois ele viu todos os seus alunos juntos com ele em cima daquela corda bamba. Percebendo que o professor havia compreendido as vozes do oráculo dos humoristas e a mensagem dos deuses do picadeiro o palhaço gritou, eles já estão em cima dessa corda bem antes do senhor aprender a se equilibrar nela grande mestre! Dessa hora em diante jamais esse experiente professor teve a sensação de que ninguém mais aprendia as lições que ele ensinava.
Eldon de Azevedo Rosamasson
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