CRÔNICA E FILOSOFIA: DEUS ME LIVRE DE SER UM EXEMPLO
Gente chata, por mais que eu procure nos esforços da minha criatividade, eu não consigo encontrar uma definição mais exata para esse tipo de personagem, que costuma ser encontrado em qualquer tipo de organização ou grupo social, que é aquela pessoa que se julga o grande exemplo para todos. E o pior é que essa gentinha está hoje em alta na atual moralidade neoconservadora que se propaga principalmente através das redes sociais, e que promove coisas como aquele espetáculo patético onde aqueles fanáticos da religião neopentecostal do ódio foram para a porta de um hospital onde uma menor de apenas 10 anos de idade, que fora engravidada por um tio abusador, precisou realizar um procedimento óbvio e legal de aborto. Mas por que esse tipo de cidadão exemplo costuma ser gente chata? Esse tipo de cidadão exemplar é chato porque ele sofre de uma estranhíssima patologia, que eu costumo chamar carinhosamente de esquizofrenia do umbigo. A esquizofrenia do umbigo só consegue enxergar as pessoas sob a sua própria imagem e sob a a sua própria semelhança projetada e distorcida nos espelhos do outro. Esse tipo de gente entende que o mundo tem que ser uma infinidade de xerox preto e branco da sua neurose por um mundo igualzinho a ele. Razão pela qual por pura moralidade mórbida, certos indivíduos não conseguem sequer se colocar empaticamente no lugar de uma criança estuprada desde os seis até os dez anos de vida.
Apesar de eu eventualmente não ter grandes admirações por alguns exemplos que as vezes estão por perto, confesso que tenho profundas afeições por gente inspiradora que conheço, e que podem estar até muito longe de mim. Pois ao contrário de todas as pessoas inspiradoras com a sua generosidade e vontade de compartilhar as suas boas experiências com o mundo, gente exemplar geralmente é autoritária e pensa que o universo, e até o próprio Deus que ela crê, giram apenas em torno da ponta da vara do seu senso de justiça. Justiça essa que mais cedo ou mais tarde acaba se tornando uma espécie de envenenamento para ela mesma. E se esse processo não for estancado, ele pode até ser capaz de picar o tal exemplo como se fosse a traiçoeira mordida de uma serpente. Com o tempo, o tal de indivíduo exemplar descobre que a vida que está na sua consciência, não é tão justa como ele pensava ser, e que a vara da sua justiça deveria sim ter servido de inspiração, inclusive para os outros, os quais não conseguiram ser tão exemplares quanto ele. Mas como isso geralmente não acontece, o indivíduo que se acha um exemplo para todos, ainda entende que os sujeitos não exemplares, que são eventualmente alcançados pelas bem aventuranças da vida, são culpados por lograr vida mansa e mais feliz que a dele em muitos casos, pois para o exemplo, a maior injustiça de Deus ocorre quando o Todo Poderoso se traveste de diabo para alimentar o sono de quem é injusto, conforme os seus critérios.
É muito mais difícil o indivíduo que não se julga exemplo do mundo perseguir esses grandes arautos da sua justiça boçal e militante. Mas é muito comum o tal exemplo ser aquela espécie de justiceiro da futilidade, que vive as expreitas para gozar a ejaculação do seu príncipal orgasmo, que está contido em uma simples frase: você errou de novo! E o pior que ocorre, é quando o tal exemplo aínda consegue organizar_se naquelas insuportáveis igrejinhas da moral como aqueles fanáticos que foram encher o saco na porta do hospital. Geralmente eles têm "espírito de rebanho", e gostam de ficar escondidinho em meio à lã de um monte de ovelhinhas cegas que não tem pastor. Deus me livre ser um exemplo, prefiro me esforçar para ser uma simples inspiração. Mesmo se eu não conseguir sê_la.
O exemplo é tão chato, que ele só consegue pensar que é herói de alguma coisa na vida, se ele achar que alguém fracassou para que ele possa dizer: olha como eu sou especial! Portanto, se você está desejoso de se tornar um dos exemplares dessa indústria moral da vida em rede, prepare_se para morrer bem cedo, jovem e belo após ter se transformado esses zumbi de quarenta, cinquenta ou sessenta anos de idade para cima, que só conseguem apontar o dedo enrugado para os outros em nome de Deus e dizer: ninguém presta, mas eu sim sou o salvador da pátria!
Penso que grandes heróis são como Aquiles e Heitor, pois eles morreram jovens nos campos de batalha por valores que os deixaram realizados. Mas a principal virtude de ambos estava também em reconhecer as qualidades dos seus inimigos. Esse tipo de herói, quando permanece na memória coletiva, é quase sempre lembrado como um mito real, pois os mitos não envelhecem sequer com a morte. Mas quem quiser forçar a barra para se transformar em mitologia antes da grandeza de elogiar os adversários, e antes do julgamento as vezes justo das narrativas da História, vira essa espécie de minotauro morto com os olhos abertos, o qual Teseu esqueceu de matar. Mas que ressuscita todos os dias como cristo embriagado de ovelhas sem lã, que não servem sequer para ser tosquiadas.
Eldon de Azevedo Rosamasson
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