CRÔNICA E FILOSOFIA: A CRIMINALIZAÇÃO DO COMUNISMO
Quem acompanha os meus textos sabe muito bem como eu tenho sido um crítico da atual exploraçãp da velocidade das informações como estratégia para desinformar as pessoas. Neste contesto, muitos apelam para o simplismo da indiferenciação entre os saberes para dizer que fenômenos políticos, culturais e sociais os mais complexos e diferentes entre si são uma e a mesma coisa. Pois quando alguém diz que coisas muito diferentes entre si são fenômenos idênticos, esse alguém facilita a assimilação do desinformado e até a sua preguiça intelectual, mas não o esclarece a contento. Sendo assim, é neste contexto que o Bolsonarismo tem investido pesadamente em afirmações como a Globo é comunista, o PT é comunista, a Constituição é comunista, os Direitos Humanos são comunistas, o Pato Donald é comunista, e se deixar, até a Galinha Pintadinha vira comunista para essa gente. Neste contesto, já a algum tempo, o deputado Eduardo Bolsonaro tem apresentado uma proposta para criminalizar juntamente o Comunismo, juntamente com o Nazismo, que já é criminalizado aqui no Brasil, sob a ideia de que ambos os movimentos representaram uma mesma coisa. E aliás, ao contrário de quase toda tradição acadêmica e enciclopédia, eles chegam até a afirmar que o Nazismo também é de esquerda. Mas afinal de contas, onde se encontram as razões éticas e morais através das quais o Nazismo sempre foi considerado crime na maioria das democracias, mas o Comunismo é quase sempre um direito constitucional entre as nações democráticas?
Essa ideia de criminalizar o Comunismo e afirmar falsamente que todo opositor é simplesmente um comunista, foi muito utilizada no mundo do Capitalismo Ocidental, sobretudo no Marcatismo americano, nas ditaduras da América Central, do Cone Sul e etc, desde o período que sucedeu a Primeira Guerra Mundial nas suas idas e vindas anti democráticas até a definitiva redemocratização entre essas nações de regimes autoritários. Mas ultimamente, o espetáculo da nossa vida vivida em rede, tem produzido não apenas muitas fale news, mas também muitas "fake opinions." Nos Estados Unidos, o mentiroso contumas Donald Trumph tem insistido que os seus opositores do Partido Democrata representam uma ameaça socialista em pleno solo americano. Na ascensão da Extrema Direita pelo mundo isso tem se repetido na fala de grupos ligados à francesa Marine Le Pen. E no Brasil também não é diferente, pois a ascensão da Extrema Direita bolsonarista aqui, tem investido muito na informação de que todo opositor do presidente Bolsonaro não passa de um comunista. Com isso o Bolsonarismo tenta inventar um precedente jurídico a seu favor, pois se todos os opositores do presidente Bolsonaro são comunistas, uma vez que o Comunismo se transforme em crime no nosso território, o Bolsonarismo conseguiria se tornar a única possibilidade de legalidade política do país. Mas será que o Comunismo e o Nazismo tem semelhanças éticas e morais tão parecidas assim para que o Comunismo seja também criminalizado no Brasil a exemplo do Nazismo?
Como tem havido um investimento da Extrema Direita no sentido de dizer que o Comunismo e o Nazismo são uma espécie de "farinha do mesmo saco" histórica, é importante dizer afinal de contas, em que ponto essas duas ideologias se encontram para que pessoas cheguem ao ponto de dizer que tais doutrinas são tão semelhantes que Comunismo teria que ser também criminalizado assim como ocorre com o Nazismo.
De fato, Nazismo e Comunismo se encontram e se assemelham no século XX, repetindo, no século XX, como orientações políticas que fizeram parte dos fenômenos políticos do Totalitatismo. Um governo totalitário geralmente era vivenciado em uma ditadura clarividente, que operava com algumas características comuns além do autoritarismo óbvio. Os governos totalitários investiam pesadamente na propaganda política. Mas com intenções muito específicas. Pois eles eram sempre focados na promoção máxima do líder supremo da nação. Tal líder, que era comparado a um "pai" da nação, jamais poderia ser facilmente questionado nas suas intenções, afinal de contas, a sua personalidade ética, moral e política era na prática a encarnação do progresso inevitável da humanidade. Neste caso, em nome desse progresso inevitável e para o bem de todos no mundo, quem não seguisse as orientações do "pai" da nação poderia até vir a perecer como segundo Hitler os judeus, as Testemunhas de Jeová, os homossexuais e etc poderiam até perecer se fosse o caso. E também no caso de Stalin, quem fizesse oposição ao regime, também estava sujeito a banimentos e a sacrifícios, também com riscos de morte.
Uma outra característica do Totalitatismo foi o 'teeror." Mas não confundamos o terror do Totalitatismo com o medo. O terror era um procedimento que procurava através da circulação de boatos de propagandas implícitas, de que onde quer que o indivíduo estivesse, os olhos totalitarios do Estado estariam observando as pessoas. Pois o medo em si tem objetos objetivos para que as pessoas temas. Mas o terror do Totalitatismo não, pois o próprio conceito de espionagem tornava evidente que qualquer pessoa aparentemente amigável poderia ser um olhar acusatório da unipresença do Estado totalitarios na pessoa do seu ditador.
E uma terceira característica do Estado totalitarios é o esvaziamento do espaço público da presença dos cidadãos, pois todos deveriam cuidar como membros de um corpo saudável, da sua célula privada, pois os assuntos públicos não precisaris da participação do cidadão nas decisões de interesse coletivo. Ou seja, os cidadãos comuns no Totalitatismo deve simplesmente cuidar da sua vida privada como um bom pai, como um bom filho, como um bom marido, como uma boa esposa, como bons estudantes, como bons operários e etc, pois a nação só tem uma cabeça pensante, o "pai" da nação, que é o seu líder supremo.
Todas essas características acima, que dentre muitas outras não citadas, identificam o Totalitatismo, representam direta ou indiretamente também o Nazismo, mas não necessariamente o Comunismo, pois o Totalitatismo em si é fenômeno político que começa a ser desenhado no mundo a partir da década de 20 do século passado. Por isso é que ele tem uma relação muito mais direta com o Nazifascismo na geopolítica mundial, pois o Totalitatismo é contemporâneo de Hitler e de Mussolini, mas não de Marx. Ou seja, o Socialismo e a sua utopia comunista, começou com a presença da crítica histórica de Karl Marx no século XlX, ou seja, Karl Marx não foi contemporâneo do Totalitatismo como ação política. Por isso é que ele não divulgava as estratégias de poder do Totalitatismo. E por razões muito óbvias, pois quando esse pensador, que é o fundador do Socialismo filosofava, as nações totalitarios ainda não estavam efetivadas no mundo como política de Estado. Razão pela qual é coerente dizer que no Nazifascismo, o Totalitarismo não se tratava de um desvio de conduta, mas no que tange ao Stalinismo e a Revolução Cubana, o Totalitatismo foi um desvio de conduta ideológica do Socialismo de utopia comunista desde as suas origens. Ou seja, o Totalitatismo se apropriou do Comunismo, mas Comunismo não é Totalitatismo.
Mas se existe tanta semelhanças entre o Stalinismo e o Nazismo como exemplo históricos de estados totalitarios, a ponto de um deputado propor a criminalizacão do Comunismo a exemplo do Nazismo, em que o esses dois sistemas têm de tão diferente para que a grande maioria das democracias, inclusive a brasileira, considere o Nazismo crime e o Comunismo não? Para isso, teremos que compreender em que tais doutrinas se diferenciam, a despeito das semelhanças totalitarios entre o Stalinismo e o Nazifascismo.
Uma das afirmações dos ideólogos da criminalização do Comunismo, é que tanto o Socialismo como o Nazismo são de esquerda. Neste caso, precisamos buscar os fundamentos das ideias esquerdistas na História através das ideias de igualdade, através da tradição dialética e através do papel do Estado, pois os primeiros ideiais de cidadania de esquerda apareceram a partir da convocação dos Estados Gerais, que antecederam a Revolução Francesa. Nessas Assembléias, os súditos que eram favoráveis às reformas rumo a uma maior igualdade e participação popular, se sentavam à esquerda do rei nas assembléias, e os que se sentavam à direita do monarca pretendiam a manutenção dos privilégios da corte e a sua desigualdade em relação às massas populares. No entanto, são essas razões históricas iniciáticas que fizeram com que o esquerdismo histórico estivesse mais relacionado aos princípios da igualdade social e de participação popular, em detrimento dos movimentos pró direita, que em tese são mais conservadores. Por isso é que fica evidente em um primeiro momento, que o Nazismo não pode representar a esquerda histórica, pois além da desigualdade está no coração da sua doutrina, vide a perseguição implacável aos judeus, às Testemunhas de Jeová, aos homossexuais e etc. Essa perseguição contrasta com os privilégios que a elite branca ariana deveria usufruir no Estado nazista. Mas contrariamente a isso, a igualdade era o fundamento basilar que orientava a utopia comunista, que deveria ser conquistada através da mobilização do movimento operário, razão pela qual o Comunismo foi considerado o oinimigo números um do Nazifascismo. É nesse processo histórico de construção da desigualdade que o Nazismo construiu os seus grandes campos de concentração. E mesmo que os stalinistas e a Revolução Cubana também tenham feito coisas análogas a isso, esses eventos ocorreram como um desvio de conduta do Totalitatismo em relação ao Comunismo. Mas no Nazismo a barbárie pertence ao seu sistema de doutrinas desde a sua base.
A partir do filósofo George Wilhelm Hegel, que viveu da segunda metade do século XVlll até a primeira metade do século XIX, nós passamos a enfatizar a História como "processo histórico." Desta maneira, é impossível falar em Comunismo e Nazismo sem se referir ao fato de que através do conceito de dialética Hegel trouxe de volta essa tradição platônica para o debate político. Porém em Hitler, as teorias da evolução, sobretudo de Hebert Spencer, terá um impacto direto ou indireto muito maior que a dialética hegeliana.
Hegel dizia que a História é uma odisseia continua da "consciência", que ele chamava também de o "absuluto", de "em si" e de "espírito." Segundo o filósofo, o Estado é o ponto de culminância política da odisseia da consciência. E como Hegel foi o principal nome do "idealismo alemão" no século XlX, ele atraiu uma infinidade de jovens para a sua filosofia. E um desses jovens foi o futuro fundador do Comunismo, Karl Marx, que também participou do grupo dos "Jovens Hegelianos." Porém, ao contrário do seu mestre, Marx falou sobre o "materialismo dialético." Ou seja, para o pai do "Socialismo Científico" não é o Espírito Absuluto que determina os rumos da história, e sim "a história das sociedades é a história das lutas de classe" era o que ele falava. É neste contesto que Marx convoca a luta dos operários com a frase "trabalhadores, uni_vos" no Manifesto Comunista redigido na companhia de Engels. Pois para eles, o Estado foi idealizado como o soberano político da modernidade para favorecer as elites burguesas, ou seja, para eles o Estado existe para beneficiar as "classes dominantes." Por esta razão, Marx e Engels pregaram a "ditadura do proletariado que promoveria a igualdade entre os trabalhadores, através da ocupação dos mesmos sobre o Estado e sobre os meios de produção. Com isso eles recuperam as ideias de igualdade e de participação popular da esquerda iluminista da Revolução Francesa e marcam as principais diferenças em relação ao Nazismo, que eram contrários à igualdade, que eram radicalmente contra a participação popular, e principalmente por causa do seu racismo, são catalogados pelas principais tradições enciclopédias como o principal movimento da "extrema direita." E isso evidentemente, nos dá uma luz sobre o porquê o Nazismo é criminalizado até hoje, mas o Comunismo não.
Quando Adof Hitler ascendeu ao poder, ele deu continuidade ao programa da Frente Ampla liderada pela burguesia alemã de perseguição implacável ao Comunismo, que inclusive, vitimou Rosa Luxemburgo e Karl Libershnecht, os principais líderes da esquerda alemã, os quais pertenceram à Liga Spartakista, que viria a ser o Partido Comunista da Alemanha. E com o empoderamento do Partido Nazista, o Comumismo foi proibido de funcionar como força política por ser considerado movimento de esquerda, grevistas e de base operária. O que prova que é totalmente falsa a falácia bolsomínia de que o Nazismo também é de esquerda. Mas se tanto o Totalitatismo praticado pelo Comunismo, principalmente no Oriente europeu, e o Totalitatismo organizado pelo Nazismo foram ambos tão cruéis, por que então que o ser Nazista é considerado um crime político e ser um comunista é politicamente legal? Pela mesma razão pela qual ninguém pode ser considerado um criminoso por ser um cristão, apesar do Cristianismo já ter praticado tantas barbaridades na História. Pela mesma razão que ser um muçulmano não é crime, apesar de haver tantos radicais muçulmanos no mundo. E pela mesma razão que não é crime ser um católico, apesar da Igreja Católica ter encoberto vários e vários crimes de pedofilia até debaixo da batina de alguns papas. Pois as atrocidades que o Stalinismo e seus correligionários no mundo praticaram, ocorreu como um desvio de conduta em relação ao que Marx e Engels propuseram. Mas a perseguição até a morte de inimigos políticos e o racismo evidente não é um desvio de conduta do Nazismo, e sim parte integrante da doutrina nazista. Tanto é que hoje em dia não há nenhuma nação no mundo que declare abertamente que possuí uma constituição Nazifascista. Mas quatro países se declaram legalmente comunistas perante à Comunidade Internacional, Laos, Vietnã, China e Cuba. Ou seja, na prática é possível dizer, eu sou cristão, mas não concordo com os desmandos históricos do Cristianismo. É possível dizer, eu sou um muçulmano, mas eu não concordo com o radicalismo religioso. É possível dizer, eu sou católico, mas não concordo com os abusos contra crianças que a Igreja acobertou. E é possível falar, eu sou um comunista, mas não concordo com as atrocidades do Stalinismo. Mas é completamente impensável alguém dizer, eu sou fascista, mas eu sou um democrata, eu sou nazista, mas sou totalmente anti Hitler e contra a barbárie, contra o racismo e a favor da igualdade de todos perante à lei. Ou seja, é por isso tudo e muito mais, que o Nazismo é crime e o Comunismo não. E é uma completa falácia bolsonarista querer criminalizar o Comunismo, que é aceito como ideologia política por praticamente todas as democracias do mundo, e ainda é a sigla de quatro nações do mundo, porque em momentos específicos da História da Humanidade ele praticou os seus desvios de conduta em forma de Totalitatismo. O Nazismo sim é crime no Brasil, e em quase todas as democracias do planeta, porque já foi formado com toda a sua barbárie, com todo o seu autoritarismo e com todo o seu racismo e crueldade, porém o Comunismo não. E criminalizar o Comunismo junto com o Nazismo, só na cabeça de bolsimínio mesmo!!!
Eldon de Azevedo Rosamasson
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