CRÔNICA E FILOSOFIA: EFEMINADOS, FEMINILIZADAS E HOMENZARRADAS

O Fantástico desse domingo fez uma matéria onde um aluno trans, que possui nome social, recebeu a recusa insistente de uma Instituição de ensino a respeito desse direito, apesar do mesmo ser hoje uma resolução que vigora no Ministério da Educação. Em uma outra situação análoga, o tradicional Colégio Pio, da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, encaminhou uma denúncia ao Conselho Tutelar, dizendo que o adolescente possui comportamento excessivamente efeminado. Mas até que ponto uma escola tem o direito de interferir no comportamento de um aluno, citando questões referentes à sua sexualidade? Será que a ascensão política da extrema direita em cargos públicos hoje tem encorajado a direção de escolas públicas ou particulares a buscar interferência de gênero na individualidade de alguns estudantes?

Para a gente ter uma noção mais clara a respeito dessa pergunta, é muito importante lembrarmos que praticamente na mesma semana, o Ministro da Educação do governo, o senhor Milton Ribeiro, declarou que a "opção" sexual de jovens a partir da infância e da adolescência pela homossexualidade é o resultado do que muitos chamados conservadores chamam de "famílias desajustadas". Mas antes de responder a pergunta que finaliza o parágrafo acima, eu gostaria de tecer alguns comentários sobre as palavras desse cidadão.

Primeiramente, eu faço questão de não chamá_lo de pastor nessa situação específica, pois hoje quando esse senhor se dirige à sociedade brasileira como um dos integrantes do governo, o mesmo não está falando a todos nós como líder religioso, pois o Brasil, e acima de tudo o Ministério da Educação, não é a Igreja Presbiteriana do Brasil onde o senhor Milton militava como reverendo. Neste caso, é completamente inoportuno que o este senhor fale à sociedade brasileira como Ministro da Educação e se pronuncie como pastor evangélico embuido dos princípios moralista da sua religião. Pois o Brasil é um país de muitas e muitas famílias, com as mais diversas formasdesajustes, e não está provado que um dos resultados desse suposto desequilíbrio seja a homossexualidade. E mesmo se fosse, segundo a Organização Mundial de Saúde, homossexualidade não representa nenhum tipo de desajuste psíquico ou social, mesmo a homossexualidade fosse em média o resultado advindo de famílias supostamente desajustadas. Seria o mesmo que dizer que uma pessoa se torna mais criativa ou mais inteligente quando ela vêm de famílias com essas anomalias internas, pois da mesma maneira como ser homossexual não representa nenhuma forma de problema clínico, hospitalar ou ambulatorial, ser mais criativo e ser mais inteligente também não tem nenhuma relação com a falta de equilíbrio familiar.

Uma outra objeção que eu gostaria de fazer, não apenas ao senhor Milton Ribeiro, mas às ideias fixas desse nosso conservadorismo caótico de extrema direita, é ao fato de muitos dizerem que homo ou heterossexualidade é uma opção das pessoas. Isso é muito contraditório, pois quando um alguém se vê heterossexual, na maioria esmagadora das vezes, ele não escolhe entre duas opções, pois quem de fato só sente atração sexual por indivíduos do mesmo sexo, não têm atrações por pessoas do sexo oposto para fazer uma escolha entre um gênero ou outro da sexualidade. Desta maneira, quando os religiosos mais obtusos, quando o senhor Milton Ribeiro, quando o senhor Silas Malafaia e etc, dizem que os indivíduos escolhem ou não ser hétero ou homossexual, eles mesmo estão admitindo que sentem vontade de trocar beijos bigodudos com outros machos como eles, mas por uma opção motivada pelo "livre arbitrário", os mesmos optarem por mulheres. Portanto senhores religiisos, portanto senhor Silas Malafaia e portanto senhor Milton Ribeiro, pensem duas vezes antes de dizer que homossexualidade é uma questão de escolhas entre alternativas diferentes de gênero, pois uma pessoa com uma perspicácia minimamente parecida com a minha, pode desconfiar que os senhores, nobres reverendos do senhor Jesus, têm no mínimo pensamentos bissexuais e comportamentos aparentemente heterossexuais.

Agora voltemos ao caso de uma escola se dirigir ao Conselho Tutelar para afirmar em forma de queixa que um dos seus alunos, ao se comportar de maneira inconveniente, procurava se promover entre entre os colegas com um comportamento "efeminado", o que me parece um claro preconceito de gênero. Por exemplo, hoje é muito comum em escolas as meninas brigarem entre si, até mais que os garotos, segundo a minha experiência pessoal e segundo segundo a experiência de praticamente todos os profissionais de educação que eu já tratei desse assunto. E curiosamente, existem alguns detalhes nessas brigas que categorizam como as garotas disputam o poder entre elas, que é muito diferente da maneira como os meninos realizam a disputa entre eles. Segundo os relatos que eu já colhi delas mesmas, os motivos dessas guerrinhas de estrogênio tem razões muito específicas e femininas como a"fofoquinha", o "me olhou com cara de nojo", e dentre muitos motivos, a atenção de um menino admirado pelo staf, também pode acabar em tapas, em puxões de cabelo e em meninas rolando no chão "pagando peitinho" e pagando calcinha", para o delírio dos garotos. Mas apesar dessas disputas caracterizarem um comportamento muito específico entre as meninas, será que algum direção de escola as enviaria ao conselho tutelar por atitudes feminilizadas? Pois também entre os garotos ocorrem comportamentos que são típicos de pequenos "macho alfa", que pretendem exercer um domínio maior que os outros sobre grupo. E os torneio de futebol das escolas são um dos palcos mais comuns quando a disputa é entre testosterona juvenil. Inclusive o último torneio que eu presenciei terminou no começo do primeiro jogo por causa de uma briga retumbante. Mas apesar desses comportamentos representarem muito mais um sistema de disputa de poder entre os garotos, será que alguma direção de escola já conduziu meninos brigões ao Conselho Tutelar pela prática de atitudes homenxarradas? Caso a resposta às duas últimas perguntas sejam negativas, por que será que os estereótipos da homossexualidade tem que ser destacados oficialmente como o principal motivo de uma rebeldia, se os estereótipos heterossexuais que marcam a rebeldia de meninos e meninas não são destacados oficialmente como os principais pontos negativos de uma indisciplina?

Eldon de Azevedo Rosamasson

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