PARÁBOLAS DO SÉCULO XXl: O CAMALEÃO

Antônio Macário Silveiro dos Reis era um nome cujo o Registro Geral ficara muito marcado na concorrida Trigésima DP do bairro de Marechal Hermes, pois o mesmo era um ser deveras sagaz e assaz habilidoso na instituição dos mais hediondos crimes contra a integridade e contra a  pessoa física de muita gente de bem. Ele também ficou bastante marcado por diversas investidas contra a dignidade e contra a honra das pessoa jurídica que atravessavam a astúcia do seu caminho. E ele também ficou muitíssimo conhecido nos tablóides do bairro  pelos seus  investimentos regulares contra a economia doméstica de muitos trabalhadores e contra a dignidade no tratamento minimamente digno a ser dispensado à frágil delicadeza de uma mulher.

Porém quando Antônio Macário, o Camaleão, como era a sua alcunha por razões óbvias, ficou parcialmente liberto na condicional, ele se afetuou muitíssimo a uma sobrinha que ele não desfrutara das alegrias do seu gracioso nascimento por estar usufruindo dos seus dias de prisão. Mas por causa de uma dessas artimanha aparentemente cruel das moiras, a menina era uma portadora da síndrome de down. E evidentemente, a grande maioria dos conhecidos da família não conseguia compreender muito como um malandro daquela estirpe poderia ser detentor de tão nobre sentimento por uma garotinha com essa tal deficiência. Pois simplesmente, era como se alguma coisa não estivesse encaixando. Afinal de contas, o Macário só faz as coisas por interesse, era o que todos diziam a seu respeito, e com certa justiça.

Em uma oportunidade meramente trivial, Antônio Macário chegou na casa da sua sobrinha tão amada, a qual a família estava vivendo no momento apanas do auxílio emergencial do governo e com o Bolsa Família, com uma lindíssima boneca que custava cerca de uns trezentos reais, exibindo também a nota fiscal do brinquedo para que não restasse nenhuma dúvida. E para a surpresa de todos, a tal boneca era o brinquedo dos sonhos que a menina vinha insistindo em querer a muito tempo, porém por razões que nem precisam ser repetidas, os seus pais não podiam sequer sonhar em comprá_lo. Mas o Macário, ou seja, o Camaleão, reuniu toda a economia de malandro fracassado que ele juntou na vida para simplesmente presentear a sobrinha especial. E ele o fez naquilo que um homem entrega por último quando o mesmo é afetado por um amor incondicional, o bolso.

Persplexo com a atitude aparentemente tão inusitado do Macário, o pai da sua sobrinha lhe perguntou: mas por que você, que nunca se preocupou nem um pouquinho em ser uma pessoa boa, consegue gostar tanto assim de uma criança como a minha filha, que tem síndrome de down? E o homem mirando_lhe fixamente o respondeu, eu gosto muito da tua filha sim, pois quando eu cometo crimes eu não faço isso porque eu sou um homem mau, eu apenas dou para o mundo o que eu tenho de melhor, que para muitos é o pior dos males. Da mesma maneira, eu não dei um presente para a tua filha porque eu me tornei um homem bom, pois a gente não precisa ser nem bom nem mau para querer ver uma criança sorrir. Só pessoas medíocres precisam temer o mau para fazer o bem. E só uma pessoa  insensata precisa fugir do diabo para correr para os braços de Jesus.

Eldon de Azevedo Rosamasson

Acesse o YouTube e digite Filosofia com Eldon Rosamasson, se inscreva no canal, faça o teu comentário, dê o seu like e compartilhe o material com outras pessoas. Participe também do grupo Filosofia com Eldon Rosamasson no Facebook. E visite diariamente o meu blog Filosofia com Eldon Rosamasson através do endereço Rosamasson ponto blogspot ponto com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CRÔNICA E FILOSOFIA: EU ODEIO A CLASSE MÉDIA

O DEUS DE MALAFAIA

CRÔNICA E FILOSOFIA: O ABORTO DO ABORTO