CRÔNICA E FILOSOFIA: DIFERENÇAS E TRINCHEIRAS

O Papa Francisco, desde os primeiros dias da sua consagração à posição se supremo pontífice católico, tem se posicionado como um reformador dentro das estruturas éticas e morais da Igreja Católica. Ou seja, Francisco parece que está interessado em dar mais um passo no sentido de desbaratar as fronteiras entre a sua instituição religiosa e alguns inimigos históricos que ficavam em uma trincheira oposta enquanto o Vaticano permanecia em outra. Mas até que ponto o Papa está contribuindo para uma convivência melhor entre as diferenças que há no mundo atual ou até que ponto o mesmo está simplesmente criando outras formas de trincheiras de intolerância com quem pensa diferente, a despeito das suas boas intenções?

Quando eu digo que o atual pontífice deu mais um passo no sentido de desbatatar fronteiras entre opositores históricos e ideológicos do Cristianismo, é porque desde o início da década de 80 com a sua posse, o Papa João Paulo Segundo começou a se aproximar politicamente até do Islamismo, com quem a instituição de São Pedro já travou várias batalhas durante os anos, algumas que em alguns lugares do mundo duram até os dias de hoje. João Paulo Segundo foi simplesmente o primeiro pontífice da História que frequentou um templo muçulmano. Só para vocês terem uma ideia do que isso significa, esse evento é o mesmo que a gente ouvir dizer que o pastor Silas Malafaia frequentou um terreiro de Candomblé em plena hora do culto aos orixás e no exato momento que o caboclo resolveu baixar no corpo do pai ou da mãe de santo. Com certeza, se eu conheço bem o povo evangélico, isso não seria tolerado nem como uma simples piada de bom gosto, e muito menos como uma remotíssima possibilidade.

Apesar de todas as boas intenções do Papa Francisco, que eu creio ser as melhores possíveis, toda vez que uma ação política é realizada, ela ocorre como um acontecimento que se dá entre homens, mulheres e outros gêneros. Desta maneira, sempre as ações que nós praticamos na publicidade da vida, sofre a inevitável interferência de muitos outros atores humanos, os quais são capazes de interferir nas nossas ações, para o bem, para o mau, ou simplesmente porque a interferência de terceiros é simplesmente inevitável. Razão pela qual tudo o que nós venhamos a fazer entre pessoas do mundo precisa estar respaldado pela vigilância previdenciária de várias formas de bom senso e cautela. E eu vou nesta oportunidade, arriscar a possibilidade de um efeito colateral não muito animador, que é o seguinte: evidentemente que uma pessoa tem que sofrer todas as replesárias pelo exercício de qualquer forma de preconceito e intolerância para com gêneros alternativos da sexualidade humana.  E é muito bom que um Papa esteja ocupado com essa missão de substituir as trincheiras ideológicas que existem entre as pessoas por meras diferenças normais em uma sociedade de cultura plural. Mas o que me causa um pouco de apreensão é a respeito de uma pergunta: que lugar uma pessoa que acha que a homossexualidade é pecado vai ocupar na vida de uma conjuntura onde os mais diversos gêneros passam a ser vistos como uma coisa regular na convivência entre os semelhantes? Será que com isso, ao invés de substituirmos as trincheiras da intolerância pelo pacifismo das diferenças da pluralidade, não estaremos agora criando uma nova trincheira entre os que desejam seguir compreendendo que o Deus da sua religião não aceita as diversas formas de gênero da sexualidade e os que pensam que não é com essas coisas que Deus se preocupa?

Dentro do contesto dessa pergunta, é importante frisar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Artigo Quinto da nossa constituição afirma categoricamente que ninguém será discriminado por qualquer forma de culto. Mas a palavra culto, que vem do latim e tem o mesmo radical do latim cultura, não significa apanas o direito de uma pessoa ir ao templo, ao terreiro os à sinagoga de uma organização religiosa e cantar, orar, bater atabaques e etc, mas liberdade de culto implica também em ter a liberdade de dizer o que o deus da religião de cada um pensa sobre o mundo, sobre a vida, sobre os homens e sobre que comportamento ético e moral o suposto deus quer dos seus seguidores. Desde que tais concepções não fira os princípios fundamentais da nossa Carta Magna evidentemente. E é exatamente neste ponto que está o x da questão. Se um cidadão diz por exemplo que um gay vai para o inferno porque o Deus dele assim estabelece, ele está dentro do seu direito de culto, penso eu. Ou seja, ele está cultuando os atributos morais do seu suposto deus e dizendo que seria melhor para todos se as pessoas o seguissem. Mas isso a meu ver, se o respeito político e social às diferenças continuarem, não se trata de uma opinião anticonstitucional, simplesmente porque na Constituição do nosso país não há Deus, não há diabo, não há céu e muito menos existe inferno. Penso que se não observarmos esses detalhes, vamos substituir as trincheiras ideológicas da intolerância religiosa por um lado, mas por outro lado podemos criar outras, pois se eu conheço bem os fundamentos das religiões da cristandade, nós ainda estamos muito longe de fazer as pessoas compreenderem que o Deus da sua religião judaicocristã se tornou um Jesus Cristo que impunha todas as bandeiras da diversidade e que se veste com as cores vibrantes do arco íris.

E essas trincheiras podem definitivamente não ser substituídas pela normalidades da simples diferença como quer o Papa Francisco e todas as pessoas de bom senso, principalmente se certas trincheiras ideológicas baterem nas portas de Instituições religiosas como a maioria das igrejas Assembleia de Deus, batistas, presbiterianos, Testemunhas de Jeová, igrejas neopentecostais e etc. Por exemplo, vamos supor que em um belo dia de domingo, em pleno dia do Senhor, uma família homoafetiva resolve aparecer de mala, cuia e sede de Deus na Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, presidida pelo pastor Silas Malafaia e diz assim: pastor, viemos aqui e queremos juntamente com os nossos filhos fazer parte do rio de membros dessa amada igreja. Em meio a suspiros de "o sangue de Jesus tem poder" por parte de alguns fiéis e da persplexidade de um olhando para o outro e outro olhando para um meio sem saber o que fazer e o que dizer nesse momento, o pastor, em nome do amor de Cristo e das leis de Deus dá a resposta óbvia à essa família, e dentre muitas palavras ditas com a Bíblia em punho o pastor diz que não, ou seja, que nessa situação eles não podem fazer parte do rio de membros da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Tendo ocorrido isso, suponhamos que essa família vá à delegacia ou à justiça se dizendo discriminada pelo pastor e pelos irmãos da igreja alegando que a instituição em questão praticaram atos de discriminação, e dentre muitas idas e vindas de recursos o caso vai parar no Supremo Tribunal Federal. Neste caso, qual seria a alegação que o STF daria como a mais justa nessa situação, os ministros diriam que as instituições religiosas têm sim o direito à liberdade do seu culto, que também implica em ter opiniões sobre a sexualidade ou o Supremo diria que uma instituição, mesmo sendo de cunho religioso, não tem o direito de restringir os espaços de um cidadão dentro de uma denominação religiosa pelo simples fato dos indivíduos que querem fazer parte da mesma serem gays, lésbicas ou simpatizantes? 

Evidentemente que os líderes religiosos mais tradicionais nesses quesitos, já estão a muito tempo pensando nas suposições desse problema, pois além do cerco está se fechando, essa postura do Papa Francisco deve estar deixando a pastora simplesmente com o tremedeiras até na ponta do cajado. E se a gente não prestar atenção nisso, nós vamos acatar as boas intenções do Papa Francisco no sentido de criar pontes de tolerância para com as diferenças da sexualidade, e simplesmente fundar novas trincheiras ideológicas com desavenças ainda maiores. E o que é pior, eu acho que diante do meu exemplo dado no parágrafo anterior, ambas as reinvindicações tem o respaldo dos Direitos Humanos e da Constituição. Neste caso, muita calma nessa hora, pois eu nem preciso ser um profeta para saber que se esse problema ainda não foi judicialmente enfrentado, como precedente jurídico ele já está sendo pensado.

Eldon de Azevedo Rosamasson

Acesse o YouTube e digite Filosofia com Eldon Rosamasson, se inscreva no canal, de o seu like, faça o teu comentário e compartilhe o material com outras pessoas. Participe também do grupo Filosofia com Eldon Rosamasson no Facebook. E visite diariamente o meu blog Filosofia com Eldon Rosamasson através do endereço Rosamasson ponto blogspot ponto com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CRÔNICA E FILOSOFIA: EU ODEIO A CLASSE MÉDIA

O DEUS DE MALAFAIA

CRÔNICA E FILOSOFIA: O ABORTO DO ABORTO