CRÔNICA E FILOSOFIA: O MARKETING DA ESTUPIDEZ
As últimas declaração, dentre as quase sempre infelizes do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, é mais uma cena desse verdadeiro espetáculo de horror político, que talvez tenhamos que conviver sob o mesmo até o final das eleições de 2022, caso algum tipo de bom senso, oposto à cegueira socioburra que o elegeu, não se antecipe impondo o justíssimo impeachment a esse político, que desde o início das contaminações, decidiu se aliar a uma pandemia mundial para alimentar o seu capital político. Razão pela qual eu penso que seja justíssima à pecha de "bolsovírus", que o nosso senso de humor tipo exportação apelidou a manifestação da Corona Vírus no Brasil. Pois simplesmente Bolsonaro está criando dificuldades para que a Corona Vack, o projeto de vacinação anticovid mais adiantado no Brasil, e que está obedecendo os critérios da metodologia científica, seja uma possibilidade de vacinação no país, meramente porque ele nutre uma grande antipatia para com os supostos comunistas chineses, uma vez que a China tem uma constituição nominalmente socialista. Inacreditável! Esse evento, e muitos outros envolvendo esse governo, têm me feito fazer a seguinte pergunta, qual será o papel da estupidez humana nas relações sociais e políticas da civilização?
O livro Sociedade do Espetáculo, de autoria do sociólogo Guy Debord, escrito na década de 20, traz a tona algumas considerações que Karl Marx já havia ensaiado na obra O Capital. Nela, o fundador do Comunismo, conclui a respeito do "fetiche da mercadoria", através do qual os bens negociados com o seu devido valor de troca, aparecem às pessoas como se eles fossem fantasmagorias que se apresentam a nós nas devidas feiras e vitrines da vida. Essas mercadorias aparecem, segundo o fundador do Comunismo, como se tivessem uma espécie de vida própria alienada das atividades das pessoas que as produz. Neste caso, ocorre socialmente uma forma tácitas de divórcio representativo entre as pessoas humanas e os bens de consumo, que passam a ser contemplados na forma de um fetiche mágico, que se separa do mundo, da natureza, dos homens e de toda organização social do trabalho. Desta maneira, qual seria a relação entre o conceito marxista de fetiche da mercadoria e a estupidez nas ações da política pública e a sua militância?
Um dos resultados da conclusão de Karl Marx sobre as nossas relações com o capital, e acima de tudo com a mercadoria, está no conceito de retificação, palavras que vem do latim rex, que significa coisa. Para Marx, a partir do momento que a sociedade capitalista conclui tacitamente que as mercadorias têm uma relação de autonomia na relação com as pessoas, o próprio ser humano começa a se comportar entre si como se os seus semelhantes também fossem constituídos como coisas, a exemplo de todos os outros bens com valor de troca. Afinal de contas no Capitalismo, só é devidamente valorizado quem colabora para que o fluxo das coisas produzidas em escala industrial ocorram livremente. Mesmo se essas coisas produzidas forem juros embutidos em cada empréstimos que valoriza os títulos da dívida pública ou privado. Desta maneira, tendo a condição humana coisificada até na produção de dinheiro que produz dinheiro como um fetiche aparentemente mágico, os bens de consumo devidamente reconhecidos como mercadorias, são conduzidas em massa para esse tipo de sociedade do consumo de bens, de serviços e de taxas de juros. Porém, como nenhuma das relações com essa sociedade pós industrial e atualmente financista pode ser relacionada fora do âmbito das tradições capitalistas, de cultura de massa e de coisifificação da vida, também a estupidez como evento normal na modernidade, é levada para esse grande mercado de muitas volorações, promovida em formas de marketing político e pessoal. E essa grande publicidade, da mesma maneira como produz supostos heróis com aparente bom senso, também pode construir anti_herois revestidos de uma aura mítica e futurista de falácias apaixonantes, capazes de dar sentido às representações de uma realidade de pura estupidez, porém com as embalagens multicoloridas do falso bom senso ou do puro cinismo coletivo.
A eleição de Bolsonaro e os seus insistentes 30 por cento de aprovação popular, mesmo já tendo ele falado quase todas as categorias de barbaridades do mundo, é também uma prova do que o fetiche da mercadoria pode fazer em uma cultura de massa. Pois não nos enganemos, a industrialização não produz apenas bens e serviços para o atendimento da vida urbana, pois a Indústria produz além disso, bens culturais que atendem aos mercados do entretenimento, do gosto e do intelecto e dos juros. E um político, que é uma espécie de produto intelectual da condição humana, também tem a capacidade de se fetichizar perante os olhos de uma grande massificação de opiniões, que de acordo com demandas nem sempre ortodoxas de setores das sociedades como os racistas, como os preconceituosos e a até mesmo os setores interessados na mais pura perversidade, podem fazer dele, desse político, um representante legítimo dessa estupidez sociólogica. E Bolsonaro é simplesmente a glória da desumanização da vida em sociedade e o triunfo do mais puro emburrecimento da condição humana, sobretudo no Brasil.
Em uma sociedade do espetáculo, Bolsonaro tem a seu favor uma qualidade que vai de encontro com o fisiologismo da espetaculização da vida, que é uma das características desse tipo de socialização. É como diz o professor Paulo Guiraldeli, Bolsonaro sabe dar espetáculo e sabe manter as pessoas entretidas com ele. Ele é uma espécie de Silvio Santos político. E em uma vida social onde a exposição pública constante é um bom capital político, ele leva uma grande vantagem em relação à personalidades mais discretas ou que só falam o politicamente correto, mesmo que essa correção na fala seja sempre muito coerente. Pois em uma sociedade de massa, não é apenas o bom senso que faz uma liderança politica aparecer e ganhar espaços no coração do eleitor, pois tem lugar para quase tudo nas feiras e nas vitrines das coisas aparentemente fantásticas, até para alguém que queira pregar o suicídio como forma de resolver problemas sociais.
Se hoje nós estamos diante de todas essas dificuldades, e se agora nós vivemos perante todo esse embaraço de estarmos convivendo com uma política pública de sabotagem no combate à Covid 19, que simplesmente caracteriza crime de genocídio, é porque durante muitos anos nós fomos tolerantes para com todos os crimes de Jair Bolsonaro, como se ele fosse um simples personagem do nosso folclore político. Inclusive a imprensa, pois essa foi a principal responsável, uma vez que se uma pessoa diz que vai promover o estupro, que vai promover o tráfico de drogas e que vai incentivar o suicídio como plataforma política, esse cidadão, se existisse, deveria ser publicamente criticado, mas definitivamente, ele não deveria ter voz na imprensa. Mas deram palanque para Jair Bolsonaro, simplesmente porque a sua fala polêmica promoveu a audiência de programas de TV na sociedade do espetáculo. Foi o senhor Jair Marquezine, do programa A Cara do Rio, que durante muitas e muitas vezes deu voz a Jair Bolsonaro para que ele falasse que era a favor da tortura, do fuzilamento de adversários políticos, que era contra o voto e a favor de uma guerra civil como a única solução para o país. Com todo esse histórico de barbaridades, também foi a senhora Luciana Gimenez que continuou a dar voz para que esse cidadão se promovesse para falar todo tipo de barbaridades que sempre pronunciou. E isso sem falar das mais recentes declarações como deputado federal, onde o mesmo rendeu homenagens ao general Ustra, o maior torturador da ditadura militar, em plena assembléia pública. Também foi dele a declaração, "eu sou homofóbico sim, graças a Deus". E em plena pandemia, ele teve a ousadia covarde de dizer, "é assim mesmo, todo mundo morre um dia." E etc. E até o experiente Roberto Cabrine participou dessa campanha indireta, dando voz a esse cidadão. Não é uma questão de dar a todos a devida liberdade de expressão, pois ninguém deve ter liberdade de expressão para cometer crimes com as palavras. E dizer que deseja fechar o Congresso caso seja eleito presidente da república, é incentivar um crime político, pois se levantar contra as instituições da república é crime diante da nossa constituição. E ao se utilizar das atitudes polêmicas e criminosas do Bolsonaro para gerar audiência para os seus programas, dando voz aos crimes de um político, é muita irresponsabilidade dos nossos veículos de imprensa, que foram os maiores promotores desse péssimo produto da sociedade do espetáculo, Jair Messias Bolsonaro.
Eldon de Azevedo Rosamasson
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