CRÔNICA E FILOSOFIA: o evangelho da democracia

Como nós fazemos parte de uma tradição cujo uma das maiores influências é a tradição judaicocristã, é muito comum que em muitas oportunidades nós pensemos nos valores que fazem parte da moral cristã como se eles fossem os mesmos valores a serem praticados na política. Mas será que isso é legítimo? ou seja, quando nós estamos no espaço público do que é político, é razoável a prática da ética pública com todas as referências do que é próprio da moral cristã?

No Brasil dos últimos anos, sobretudo com a aliança da extrema direita com o Neopentecostalismo, política e religião têm se apropriado de propagandas ideológicas como se ambas essas coisas fizessem parte de uma mesma essência na gestão da sociabilidade humana. Mas isso tem ocorrido também por causa do estilo de gestão com a qual o PT governou o Brasil durante 16 anos, principalmente nos primeiros doze anos do Partido dos Trabalhadores no poder. Pois o partido realizou uma ampla aliança onde quase toda a elite política foi cooptada por vários acordos de mesmice executiva, legislativa, e as vezes, até judiciária. E como essa cooptação também capturou as esquerdas e quase todos os movimentos populares, isso fez com que o próprio esquerdismo ficasse todos esses anos sem projetar no cenário nacional  pessoas que pudessem representar os seus pressupostos, salvo o crescimento do Guilherme Boulos nos últimos dias. Pois simplesmente, não há governo de esquerda sem alianças entre gestão pública e bases populares. Pois definitivamente, o Estado Moderno é a instituição que dá legitimidade às iniciativas do Capitalismo. Não existe Estado de esquerda! E se um governo dito governo esquerdista se esconde da população nos interiores da máquina estatal, ele será engolido pelo grande capital, que sempre se utilizou dos estados nacionais para fazer crescer a mais valia. Resultado, quando o PT  perdeu a credibilidade, também por causa da corrupção nos interiores das instituições da república, apareceu também um pensamento pseudoreligioso de demonização de toda a política. Razão pela qual a extrema direita se utilizou de uma linguagem apocalíptica, que relaciona agora o PT à uma falsa ideia de que o mesmo é algum tipo de organização exotérica que comandaria uma grande conspiração comunista no mundo. Por isso eles afirmam hoje que tudo o que não é de direita, ou melhor, que todas as coisas que não são de extrema direita no mundo, é uma espécie de petetização comunista e mundial passível de ser liberta pelo evangelho político da extrema direita. E por não ter criado quadros de esquerda e desmobilizado os movimentos populares nos dias das "vacas gordas", quando as vacas emagreceram, o PT se viu incapaz de mobilizar a sociedade a seu favor quando ele quis comvovar as multidões.

Quando a ética política é confundida com a moral religiosa, isso pode gerar uma série de distorções. Primeiramente a política e a cidadania, principalmente se elas fizerem parte do espectro democrático, o seu formato discursivo e sociólogico é dialético. Ou seja, política é um fenômeno estritamente ético, e não moral. Pois a moral é considerada a partir de valores mais estáticos e com muito pouca mobilidade de alternância. Porém a ética está muito mais no campo das discussões dos valores morais. E por que hoje em boa parte do mundo, sobretudo no Brasil, o discurso de extrema direita tem tomado tantos espaços nos lugares da discussão politica? Isso está ocorrendo também porque a decepção com os desvios de conduta da política tradicional, e acima de tudo, com a grande crise de representação que está ocorrendo na relação entre a gestão pública e as populações, tem feito com que muitos cidadãos desesperançados se entreguem aos discursos fáceis dos falsos super homens da vida pública e aos supostos evangelistas da ordem pública de uma nova era da moral e da ética. Mas eles se esqueceram que o Evangelho pertence ao Cristo histórico ou ao Jesus da História, porém em política não existe o ide por todo mundo e pregai  a democracia a toda criatura. Porém, um dos fenômenos da nossa desmobilização política dos últimos anos resultou também nessa confusão entre a ética política e a pregação na política.

Eldon de Azevedo Rosamasson

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