CRÔNICA E FILOSOFIA: miramos o PT, acertamos a utopia
Há um texto meu, que basta procurar no meu grupo de Facebook, Filosofia com Eldon Rosamasson, no meu Face, Eldon de Azevedo Rosa ou no meu endereço de blog, Rosamasson ponto blogspot ponto com, que é intitulado Lula mítico e Lula real. Nele eu apresento um Lula mitológico que embalou os sonhos das nossas utopias de igualdade, fraternidade e solidariedade, desde o momento da sua aparição como o principal sindicalista da História do Brasil nos movimentos trabalhistas do ABC Paulista a partir do finalzinho da segunda metade da década de 70. Mas com o tempo, nós fomos atropelados pela realidade de um Lula real, pejorativamente chamado de "Lulinha Paz e Amor", desde que a sua imagem foi entregue aos cuidados do marqueteiro Duda Mendonça. A partir desse momento, começamos a achar mais ou menos normal ver um Luiz Inácio mais liberal e disposto a fazer alianças mais amplas em torno de um entendimento mais acessível em um possível governo PT. Mas o que não esperávamos era que esquemas de corrupção como os do Mensalão e do Petrolão também passassem a fazer parte do dia a dia dos bastidores da gestão petista. O que causou uma indignação que até agora o Partido dos Trabalhadores vem colhendo, com a diminuição gradativa de representantes, o que culminou mais uma vez nas eleições para as prefeituras do Brasil. Porém uma pergunta eu tenho feito à minha consciência, até que ponto as frustrações promovidas em relação à roubalheira nos bastidores da base aliada dos governos do PT fizeram com que a gente abandonasse completamente as nossas utopias de esquerda, tão necessárias como espaço crítico de desenvolvimento humano, e caíssemos em uma distopia tão complexa, que sequer nós conseguimos hoje reagir a um governo Bolsonaro que sequer disfarça que pretende que muitas e muitas pessoas morram vitimadas pela Covid 19?
Penso que existe um grande mosaico de eventos históricos que nos levaram a essa problemática, começando pelo próprio Partido dos Trabalhadores. Explico: desde a época da extinta UDN do folclórico Jânio Quadros e do eloquente Carlos Lacerda, o Brasil vem construindo, principalmente a partir de matrizes intelectuais da UNE segunda o sociólogo Jessé Souza, um pensamento político extremamente vinculado ao problema da corrupção. Com essa ideia, nós ficamos com o pensamento de que o principal problema de infraestrutura do país é a falta de honestidade dos nossos políticos. Desta maneira, ficamos com a falsa impressão de que as questões referentes aos problemas de ética na vida pública estivessem sempre voltados para a falsidade moral dos nossos homens públicos, mas jamais do mercado como o potencial corruptor dos operadores da república envolvidos em corrupção. Quando o PT surgiu, e gradativamente se tornou o maior partido de esquerda da América Latina, ao invés dele focar nos principais fundamentos da crítica de esquerda tradicional, que é a questão das lutas de classe, o partido entrou na mesmice política udenista de se voltar para o problema da corrupção de uma maneira para além do necessário. Resultado, quando o partido acordou e se viu envolvido em um problema que ele sempre criticou com falsos moralismos, o mesmo ficou tão sem embasamento na memória coletiva, que até os avanços sociais que a população mais vulnerável logrou alcançar nos governos Lula, caiu no esquecimento até de grande parte dos indivíduos favorecidos pelos programas sociais do PT.
Essa derrocada na reputação do Lula e de grande parte da sua cúpula de caciques, gerou fortes e evidentes indignações na sociedade. A ponto de alguns pensadores terem a coragem de dizer que a eleição do Bolsonaro teria sido boa, pois a mesma provocaria a inadiável despetetização do Brasil. Mas infelizmente, foi exatamente neste aspecto que nós perdemos a mão. Pois deixamos escapar a pegada correta e equilibrada dessa crítica quando os vários setores da sociedade passaram a se indispor contra o PT, e vieram a fazê_lo muito por fora e bastante aquém do âmbito institucional que tal crítica deveria merecer. Vou dar um examplo, vamos supor que o Partido Republicano ou o Partido Democrata dos Estados Unidos se envolvessem em estados de corrupção no nível e no tamanho de um Mensalão ou de um Petrolão. Será como os americanos, com toda a sua bagagem histórica de institucionalidade, se comportariam se caso um desses dois partidos ou mesmo ambos se corrompessem demasiadamente? Será que eles entenderiam, principalmente por intermédio de grande parte da imprensa e da elite, que tais partidos deveriam nestes casos ser eliminados total ou parcialmente do jogo político? Ou eles compreenderia que tais instituições partidárias deveriam recuperar as suas bases éticas e morais para o bem da democracia americana, que precisa e precisa muito da História dessas duas instituições naquela sociedade?
O obscurantismo que hoje toma conta da sociedade brasileira, o dogmatismo e as crendices evangélicas sendo elevadas à categoria de questões de Estado, o poder executivo que agora milita a favor de uma pandemia mortal e etc, têm levado alguns pensadores, inclusive o historiador Marco Antônio Vilas, a dizer que esse Brasil que se mostra agora é um Brasil que elenão conhecia. Mas infelizmente, o Villas, o jornalista Reinaldo Azevedo, o Luiz Felipe Pondé, a gritaria do Olavo de Carvalho e seu picadeiro político e etc, foram também tomados por um triste e surpreende efeito colateral de efeitos catastróficos que sucederam as suas críticas durante a gestão petista, tragédia essa que hoje já passa de mais 180 mil mortos. Não que os pensadores acima tivessem culpa do que fizeram. Mas muitos de nós fomos pegos pelo que a filósofa Hanna Arendt chamaba de "a imprevisibilidade da ação política" em sei livro Entre o passado e o futuro." E o que a pensadora queria dizer com isso? Com isso ela compreendia que toda ação política que nós realizamos, na verdade a realizamos "entre os homens." Desta maneira, como as outras pessoas participam das nossas ações políticas, os resultados que pretendíamos, sempre sofre a alteração de outros atores políticos e sociais. E o que ocorreu neste caso? O que aconteceu é que a intensidade da crítica antipetista nos conduziu a um triste e deprimente sentimento, não apenas de antipetismo, mas também de antiutopismo, uma vez que durante mais de três décadas, o Partido dos Trabalhadores, surgido no final da década de 70 com o sindicalista Luiz Inácio da Silva na liderança liderança dos metalúrgicos do ABC Paulista, representou a quase todos os valores das nossas utopias políticas neste país. E desta maneira, neste exato momento da República brasileira, quando grande parte da população ouve a respeito de qualquer ensaio de dignidade humana, ela entende que se trata de petismo. Ou leia_se, Comunismo.
Todos que acompanharam a História do governo petista, principalmente nos dias da presidência do Lula, sabe muito bem que o governabilidade ocorreu em uma ampla base aliada, com pouquissimas dispersões. Era nessa base que os principais esquemas de corrupção eram abafados. Porém mesmo assim, por causa dessa coalizão realizada nesse passado recente, que nos seus melhores dias, contava até com o apoio da família Bolsonaro, o petismo com o tempo passou a ser em grande parte descartado por razões óbvias. Mas não apenas como a negação das utopias que ele representou, mas o mesmo também passou a ser duramente vilipendiado na criminalização da política, que levou o Bolsonaro à presidência, com a máxima implícita de que além das utopias supostamente comunistas do PT, a política normal também deveria ser combatido em prol dos extremismos de direita, que no Brasil é hoje representado por Jair Bolsonaro. Ou seja, agora a impressão que as pessoas passaram a ter é que se quase todos os políticos estavam com o PT, então política, PT, corrupção, e pasmem, até o fantasma do Comunismo, é na realidade, tudo a mesma coisa. E se o PT, os políticos e o Comunismo é tudo o mesmo, então para as teorias da conspiração que passaram a surgir daí, todas as possíveis contradições do mundo, seriam uma espécie de petezão mundial, que comandaria a Globo comunista, a ONU comunista, o Banco Mundial comunista, o Banco Central comunista, a Mikey comunista, o Pato Donald, comunista, o Pateta, comunista, a Galinha Pintadinha comunista e todos os etceteras comunistas.
Hoje nós estamos expostos à essa atual distopia de maneira muito explícita, mas na realidade, distopias por aqui são hábitos que nós sempre cultivamos. Pois desde as Capitanias Hereditárias, passando pela escravatura, depois pela Monarquia, até o nosso Republicanismo desde sempre, nós sempre nos caracterizados por sermos um dos países mais desiguais do planeta. Neste caso, o Brasil que nós não conhecíamos falado pelo Vilas, é de fato, um Brasil que nós sempre tivemos contato. O que apareceu agora, foi a face mais explícita e extrema de um modelo econômico, social e político que sempre tratou os bolsões da miséria humana com quase todos os descasos possíveis. Ou seja, a face mais oculta das nossas perversidades estavam a espera de uma pessoa da estirpe malévola de um Jair Bolsonaro para apoiar frases do tipo, "eu sou a favor da tortura", o Brasil só vai melhorar com uma "guerra civil", eu sou a favor do fuzilamento de "uns trinta mil", de frases do tipo,"se morrer alguns inocentes, azar", "eu sou homofóbico sim, graças a Deus", que "todo mundo morre um dia" e etc.
Ou seja, nesta fase estamos diante de uma aporia, pois o PT alcançou uma grande reputação de representante das nossas melhores utopias no país, porém quando ele se corrompeu, nós os críticos do partido, não tivemos o devido cuidado de comunicar ao senso comum da nossa urbanidade, que o que nós estávamos criticando era na verdade o Período dos Trabalhadores na natureza da sua corrupção interna, e não as melhores utopias que ele representava. Ou seja, nós atacamos o Lula real, mas esquecemos de preservar os melhores valores utópicos do Lula mítico. Isso é muito semelhante ao que muitos críticos dizem a respeito da Operação Lava Jato, uma vez que ela teria a virtude de recuperar até muitos milhões desviados em corrupção dos cofres públicos, mas ao mesmo tempo, sem preservar os cuidado para que grandes empresas responsáveis por fatias enormes do nosso mapa empregatício como a Odebrecht por exemplo, fosse preservada. O mesmo ocorre com o PT, pois esse partido é sim um patrimônio nacional, apesar da corrupção. Participa ativamente da vida política do país desde a segunda metade da década de 70 e foi fundamental na redemocratização do Brasil. E o caminho deveria ser a revisão dos valores políticos, éticos e morais do partido, principalmente junto à sociedade e junto aos trabalhadores, e não a demonização da instituição como um todo. Isso é semelhante a suposta demonização completa da Polícia porque muitos policiais se corromperam, a despeito dos muitos bons serviços prestados pelas nossas forças de segurança. E é exatamente por causa dessa falta de cuidado que nós estamos vivendo essa distopia tão explícita do governo Bolsonaro, pois a partir do momento que as duras críticas ao PT vingaram na sociedade brasileira, passamos em grande parte a entender que qualquer tipo de utopia ou ideia de bem estar social é ruim e é falsa por ser petista, o que não é a verdade. Ou seja, fizemos uma crítica tão dura ao petismo, que ao tentarmos atingir Lulismo, miramos o PT, mas acertamos em todas as nossas melhores utopias.
Eldon de Azevedo Rosamasson
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