REFORMA DO ENSINO MOLE
Uma das maiores contradições entre a gestão escolar e a consciência comum do educando ocorre quando nós mimamos os alunos para que assim eles se sintam como se fossem prioridade. Ou seja, em parte nós os colocamos em categorias sociais de supervítimas mimadas, potencialmente aviltadas por supersuspeitas do corpo docentes que ao invés de receberem a autonomia de se doarem a um Ensino Médio aparentemente sustentável agora se vê diretamente constrangido a oferecer uma espécie de Ensino Mole em detrimento da escola mediana regular.
Quando houve a proposta do Novo Ensino Médio como a primeira ação objetiva do governo Temer a respeito de uma ideia de mudança para o país, o discurso se deu até de maneira bastante previsível, pois a fala dava contas de que precisamos flexibilizar o potencial dos nossos estudantes para os novos desafios do mundo de hoje, sobretudo do atual mundo do trabalho. Porém diante de tal perspectiva não paramos para discutir sobre como esse tal de mundo em constantes revoluções por minuto faz o seu movimento hiperacelerado por aqui. E principalmente em lugares como a Baixada Fluminense no Estado do Rio de Janeiro onde eu leciono Filosofia e Sociologia na maioria das oportunidades. Ou seja, solicitamos mudanças qualitativas para a escolaridade em uma fase de retração das nossas atividades produtivas que ocorre principalmente desde a década de 90. E como tornar o Ensino uma atividade progressiva em um país que não realiza movimentos de progresso desde a data supracitada? De que reforma do ensino nós estamos falando se a anos nós não nos encontramos em reformas qualitativas que nos reponha no protagonismo do crescimento industrial do mundo como ocorrera no Brasil da década de 30 até a década de 80? Nós do povo e da Escola participamos das tentativas de respostas à essas perguntas?
As interrogações que fecham o último parágrafo tem a ver com um dos principais problemas da nossa democracia e que também perpassa o dia a dia da escola. Vivemos uma insistente crise de democracia participativa substituída pela costumeira democracia representativa do Fla Flu político de cada dia. E é também neste hábito do fazer político que a Reforma do Ensino Médio foi se impondo, cinicamente confrontada pelo sindicalismo esotérico e sem diretórios democráticos dos sepes da vida, da morte e da ausência. E como a discussão a respeito de que país nós queremos para que a mesma esteja arrolada a uma educação de qualidade para todos não é uma dialética democrática de participação popular, tal cinismo afeta inclusive a relação entre educadores e estudantes em constrangimentos que chegam até a beirar o ridículo. Por exemplo, hoje até em reuniões do corpo docente nós estamos em tratativas para que os alunos não saibam que a maioria esmagadora, quiçá todas, as disciplinas que estão entrando no currículo escolar não reprova mais ninguém. E qual é o temor de quase todos? O medo é que o desinteresse pelo aprendizado e o desrespeito pelos professores que desde a muito é evidente se generalize irremediavelmente com a ciência do educando sobre a aprovação automática de muitas disciplinas. O problema desta estratégia, por mais lógica que ela pareça ser, é que com isso nós estamos e estaremos reforçando o esoterismo político da democracia pouco participativa que se tornou um hábito corriqueiro do nosso fazer democrático representativo. E se a transparência que é fundamental na construção de democracias saudáveis e participativas não fizer parte do fazer pedagógico de cada dia como formaremos cidadãos minimamente críticos que saibam exigir transparência das instituições públicas na relação da cidadania para com elas? Sem falar que se mentira tem perna curta, essa de que Projeto de Vida, o que vai por aí, o que se passa acolá e coisas mais satíricas que essas pode reprovar alguém tem a mesma proeminência das pernas de uma cobra.
Que reforma é essa? Hoje chegamos em sala para dar aulas de uma série de disciplinas que passamos a nomear somente a partir do primeiro contato com as mesmas. Sem falar da ausência quase total de material didático e de apoio para quem precisa. Não que isso seja uma dificuldade tão insolúvel sempre, pois os temas de muitíssimas já faziam parte do diálogo que nós temos dentro do próprio etinerário formativo normal. O meu questionamento é para com a inexistência do cuidado mais basilar para com o ensino e para com a seriedade do que é a escola e a devida especialidade de cada disciplina. No ritmo que as coisas estão acontecendo e com o silêncio da nossa democracia de Watzsapp, eu reflito nos caminhos não da aprovação automática que é uma realidade de difícil solução diante da nossa demanda por serviços públicos na área da educação. Mas o que está ocorrendo na realidade é que a tal de Reforma do Ensino Médio está solapando ainda mais a todos os rituais que podem formar pessoas ainda que elas quase nada saibam ou quase sempre nada aprendam. Pois outrora os cidadãos que quase nada sabiam ou quase sempre nada aprendiam formalmente podiam até intuir que em algum lugar da vida escolar lá estavam os valores da Educação Básica e do Ensino Médio que por ele não fora apreendido. Porém agora diante de uma gestão pública e escolar que parece querer se adequar à várias maneiras de não saber para que cidadãos intuam que foram à escola e isso é o suficiente, gestores tiveram uma saída aparentemente inusitada, ao invés de fazerem a revolução do Ensino Médio realizou_se ironicamente uma outra reforma, a reforma do ensino mole para que o não saber formal também seja docilmente acolhido como prática pedagógica passiva no interior das escolas. E principalmente no interior das escolas públicas
Eldon de Azevedo Rosa Masón
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