A ESCOLA E O DEBATE
Quando surgiu o movimento operário do ABC Paulista no final da segunda metade da década de 70, e sobretudo a partir do momento que apareceu o PT no cenário político nacional no início da década de 80, o principal líder desse momento, o sindicalista Luiz Inácio da Silva, vulgarmente chamado de Lula, aparentemente se utilizou da energia embrionária do Partido dos Trabalhadores que emergia oportunamente para fazer dele a escola e a universidade que o mesmo não teve. Com isso o novo sindicalismo brasileiro atraia artistas, intelectuais, escritores, acadêmicos, juristas e estadistas de renome para o interior dos seus debates, para a sua crítica às elites e para a então configuração do mundo do trabalho. Mas como o Sindicalismo tradicional não está mais presente no mundo de agora, quais seriam as mais novas maneiras de resistirmos aos novos modos de opressão dos dias de agora os quais eu chamo carinhosamente neste texto de opressão libertária? E se este debate é mesmo importante, qual seria o papel da Escola neste diálogo?
A atual fase da escola brasileira, sobretudo com a chamada Reforma do Ensino Médio, reforça ainda mais o tipo de intelectualidade orgânica que nós quase sempre tivemos dentro das nossas instituições escolares, uma intelectualidade meio feminesca a qual se adapta não apenas ao nosso excesso de submissão, mas a uma excessiva subomissão que parece que vive apenas de murmurações da sala dos professores e de uma limitadora democracias de Watzsapp. Porém como no exemplo do primeiro parágrafo, estamos em tempo real diante de um cidadão que hoje é o presidente do Brasil , que criou o maior partido de esquerda da América Latina, que está a cerca de 45 anos no debate público e que até hoje ainda atrai uma boa quantidade de intelectuais de excelente formação para dentro do seu partido. Mas nós professores que somos medianamente escolarizados, e talvez até um pouco mais que o próprio presidente Lula, por que desde quase sempre não conseguimos fazer das nossas escolas um fórum de debate realmente representatativo para nós, para a educação e para a sociedade? Ou será que nós professores e a Escola não podemos ter esse papel dentro da democracia?
Evidentemente precisamos de uma exegese mínima sobre o porquê partidos e instituições políticas e sociais puderam fazer movimentos baseados no estilo de Sindicalismo tradicional que fez o PT emergir no cenário nacional e mundial, pois no modo de produção fordista que imperava no interior da Indústria brasileira até os anos 90, os trabalhadores ainda se encontravam relativamente unidos no chão das fábricas. Mas com a automação e com a digitalização da produção que já vinha ocorrendo nas principais economias industriais do mundo, trabalhadores passaram a exercer funções mais concentradas nos setores de serviço do entorno e do lado de fora do muro das fábricas, o que enfraqueceu por demais os movimentos operários do planeta. Consequentemente houve também a flexibilização gradativa dos direitos trabalhistas convencionais. Mas se você chegou até ao final desse terceiro parágrafo comigo tu podes me fazer a seguinte pergunta crítica, mas professor, o que a História do Sindicalismo mundial tem a ver com a possível atuação ou pouca militância política da classe dos professores, principalmente no Brasil de agora? O que acontece é que esse Sindicalismo que se orientava a partir das fábricas e que no Brasil tinha como referência o Petismo, a CUT, a CGC e etc, também pautava e motivava os movimentos de reivindicação do corpo docente. Mas com o encolhimento dessas ações políticas tradicionais no Brasil e no mundo, tivemos como consequência não necessariamente a desunião dos professores como eu ouço da parte de alguns mestres desavisados, mas sim a sua quase completa desmobilização. Dentro desse contesto os nossos sindicatos de classe passaram a praticar uma representatividade que não deixou de ser importante é claro, mas os Sepes da vida também foram atingidos pelo enfraquecimento histórico dos Sindicatos pelo mundo, e por causa disso as vezes vivem mais para justificar a sua sobrevivência que para criar diretórios atuantes em cada instituição de classe e em cada unidade escolar.
Repetindo, o Lupopetismo com todos os seus defeitos e qualidades teve e ainda tem a possibilidade de atrair para si grande parte da elite dos intelectuais através dos fóruns de debate que o Lula cria no interior do Partido para que o mesmo seja uma espécie de universidade que ele não teve. Mas mesmo assim existe a dificuldade evidente de trazer a massa dos trabalhadores para uma participação mais efetiva dentro dos fóruns, pois as pessoas não estão mais reunidos a partir do interior das fábricas e nos comícios apaixonados das portas das indústrias. Porém penso que seja neste espaço de oportunidade que a Escola, e principalmente a Escola Pública, pode entrar mais efetivamente no fórum pedagógico e político do trabalhismo atual. Principalmente com a participação mais efetiva de nós professores em temas que promovem decisões tão importantes como essa tal de Reforma do Ensino Médio. E por que eu digo isso? Eu digo tal porque se os trabalhadores estão mais dispersos no atual mundo do trabalho o mesmo não acontece com nós professores, sobretudo com a gente que é corpo docente da rede pública, uma vez que mesmo tendo um sindicalismo assaz capenga, nós ainda o temos e nos encontramos juntos no chão da Escola a exemplo da antiga união dos operários da indústria fordista. Com isso possuímos sim todas as condições de também pautarmos a presença dos trabalhadores de agora na debatedeira do Trabalhismo de hoje levando em consideração a própria presença dos docentes em certa mediação entre os cidadãos, o trabalho e o Estado.
Mas como eu estou propondo que o professor regular seja um ator mais atuante no mundo do trabalho, e principalmente em ações nas próprias demandas que concernem à educação e ao dia a dia da Escola, como começar esse movimento? Eu tenho dito em alguns vídeos do meu canal que nós do corpo docente precisamos nos reunir regularmente, quiçá anualmente e até com a participação dos nossos sindicatos de classe. Mas nessas conferências anuais penso que seria importante que os encontros fossem liderados e organizados pelos professores, não pelos sindicatos. Não que os mesmos não possam estar presente nesses eventos. Inclusive defendo que os seus membros estejam entre os principais conferencistas dos eventos dado a importância do Sindicalismo nas nossas lutas. Mas não sejamos ingênuos, sindicatos costumam ter, sobretudo hoje com o seu enfraquecimento, demandas muito próprias que nem sempre têm relação direta com o verdadeiro interesse da classe dos professores. O Sindicalismo está passando por uma grande crise e precisa acima de tudo sobreviver como instituição.
Eldon de Azevedo Rosa Masón
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